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Maré baixa

De Tiago Ribeiro · Em Junho 5, 2016

Como uma das mais fáceis manobras para destruir um filme é enchê-lo de ruído sonoro a despropósito, vamos escrever umas quantas linhas sobre uma daquelas obras que conseguem o pequeno milagre de ter ruído sonoro com todo o propósito. Chama-se Tarde Demais (2000), foi realizada pelo José Nascimento, e é um notável exemplo de “cinema imersivo” com o recurso a um orçamento de cem paus.

Tarde Demais

Tarde Demais, com argumento de Nascimento e do João Canijo, parte de uma história ocorrida em 1995, quando um grupo de pescadores morreu no Mar da Palha, ás portas de Lisboa. Embora sem martelar de forma incessante as nossas pobres consciências, nota-se a subtil preocupação de Nascimento em contrastar a selvajaria da situação limite dos pescadores e a civilidade da cidade ali tão perto, através do recurso regular aos planos da ponte Vasco da Gama e de Lisboa no horizonte, lugares de quimera inacessível a estes homens. Em 1995, o surrealismo deverá ter sido ainda maior: uma ponte “modernaça” em construção, a Expo a ganhar forma por entre andaimes e cimentos, uma Lisboa oriental a rejuvenescer, e, ao lado, uns desgraçados a perecerem em baixo mar.

Quando o filme tem o seu início, já o naufrágio da embarcação teve lugar, e o que se vê a partir daí e pelo menos durante metade da duração do filme, é algo que desafia a credulidade, remetendo Tarde Demais para a categoria de grande filme português na categoria “Ficção Científica no triângulo Póvoa de Santa Iria/Alcochete/Lisboa”, com um cenário paisagístico a rivalizar com os falsos planetas marítimos do Interstellar (2014) do Christopher Nolan, ainda por cima com essa pequena lembrança do orçamento do Tarde Demais mal conseguir pagar os atacadores dos tennis do McConaughey (o Interstellar é o melhor filme do Nolan). Os planos de homens (e de super homens, no caso do Vítor Norte) a andarem em pleno mar são matéria para se parar o filme, tirar os óculos, limpá-los com uns toalhetes, voltar a colocá-los e retomar a visão do filme.

Os variados sons da água são tão cristalinos que damos por nós a ir à procura da toalha mais próxima.

Nesta primeira metade do filme do José, onde o Homem e a Natureza se encontram em estado primitivo (com o betão a um quilómetro de distância), ainda mais impressionantes que a dimensão alienígena das imagens são a banda de som e a banda sonora original composta pelo Nuno Rebelo, músico que, curiosa e ironicamente, tinha sido o autor do famoso “Pangea”, tema oficial da Expo 1998. Os variados sons da água são tão cristalinos que damos por nós a ir à procura da toalha mais próxima. Se isto estivesse em 7.1, teríamos, basicamente, pessoas a fugir das salas da “magia da tela” ou a partirem os ecrãs da “magia do televisor”, com medo de inundações caseiras. E ainda há quem se queixe, de forma rotineira, do som dos filmes portugueses. Uma maravilha impressionista, deleitando ouvidos e restante corpo. Ainda bem que a chuva já se foi.

Harmoniosamente acoplada ás sonoridades marítimas, está a música de Nuno Rebelo, incessante, épica, brutal. O falecido e saudoso Fernando Magalhães, crítico musical do Público, certamente que nos poderia ajudar a classificar e a enquadrar os ritmos de Rebelo, mas o que se ouve em Tarde Demais é algo que um leigo com um mínimo de presunção poderia catalogar como “eletrónica abstrata”, que transmite uma urgência total às acções, por mínimas que sejam, dos pescadores em luta contra água, frio e ostras. Que a sua constante presença não esmague tudo à volta, é grande elogio não só para Rebelo, como para a edição de Nascimento e João Braz, capaz de, na corda bamba, tecer as diferentes sensibilidades sonoras sem perigo de derrocada. Sonoplastia de alto gabarito.

Embora Tarde Demais perca algum do seu foco quando troca o mar pela terra, enveredando por terrenos mais convencionais de “vamos salvar o pessoal!”, não deixa de se constituir como um dos melhores filmes portugueses de “género”, se nos é permitida tamanha e redutora designação. E para além desta dimensão estritamente cinematográfica, há sempre essa curiosidade de vermos neste filme de José Nascimento uma peça de época, um episódio em contramão do “espírito optimista” que ainda se vivia, moderadamente, nos primeiros tempos após a festa da Expo. E acabado este artigo, vamos voltar ao conserto das redes de pesca.

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Tiago Ribeiro

Em Dezembro de 1963, Jean-Luc Godard, sentado numa esplanada em Saint-Germain-des-Prés, proferiu o seguinte: "estou sentado numa cadeira numa esplanada e o cinema faz este mês sessenta e oito anos". Um "jeu de mot" polémico (como sempre, no mestre) mas que em retrospectiva nos parece de uma clarividência singular.

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