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A Casa do Cemitério: o macabro ofício de crescer

De Luiz Soares Júnior · Em Fevereiro 5, 2016

Durante a primeira fase sádica que todo indivíduo atravessa, a criança se protege contra o medo que lhe inspiram seus cruéis objetos interiorizados (…) multiplicando contra eles seus ataques imaginários; seu fito, ao desembaraçar-se de seus objetos, é em parte silenciar as intoleráveis ameaças de seu superego. Um círculo vicioso se estabelece: a angústia da criança a pressiona a destruir seus objetos, o que suscita uma intensificação da angústia, e esta a leva novamente a voltar-se contra estes mesmos objetos.

Melanie Klein, Ensaios de Psicanálise, 1968

I am a collection of the family’s body parts.

Witold Gombrowicz,  Ferdydurke, 1937

Here we may reign secure, and in my choice

To reign is worth ambition though in Hell:

Better to reign in Hell, then serve in Heaven.

Milton, Paradise Lost, Book I, 1667

Quella villa accanto al cimitero (A Casa do Cemitério, 1981) é um filme que crê absolutamente naquele aforismo de Nietzsche segundo o qual “você não deve olhar para o abismo, senão o abismo olha de volta para você”. No início do filme, é Bob que é o objeto do olhar da menina aprisionada na foto; é Bob a presa da representação do fantasma, e é o Bildungsroman terrífico de Bob que vamos acompanhar, em suas fases mais crucialmente determinantes: matar as figuras paternas e maternas reais (não só a mãe, mas a mulher que lhes aluga a casa e Annn, a babysitter) até não restar senão a quintessência icônica da Mãe monstruosa de Melanie Klein, na figura de Mrs. Freudstein, uma lady saída direto dos logros fantasmáticos de Henry James. Quella villa accanto al cimitero , na medida em que nos apresenta a criança como “objeto” do fantasma, jamais poderia nos legar um álbum elegíaco, um kammerspiel idealista da infância; de antemão e por princípio estamos enredados na teia do espectral. O olhar que preside à féerie não é o de Bob, mas da criança morta, cujo fito é arrastar o seu companheiro de jogos e decapitações para o sótão de um passado infinitamente recuado, rugoso e lodoso depósito de objetos parciais semi-apodrecidos e vísceras fumegantes, espécie de condensação fulciana do décor abissal da vida pré-uterina: aqui, as faculdades humanas da percepção, da memória e da cognição ainda não estão definitivamente cristalizadas; tudo é confuso, rasurado e rascunhado, tudo se repete ou nega, se sugere e mutila; a narrativa feita de gaps, de precipitações e de ecos de Quella villa accanto al cimitero não é um “defeito” autoral característico daquele que é considerado covardemente um “cineasta z”, mas a consolidação de um impossível ponto de vista, que liga sub-repticiamente as três crianças do filme (Bob, a menina da foto e o monstro tatibitati), vislumbra a infância sob o império regressivo do passado que não “quer passar”, e compele aos outros personagens e ao próprio filme a seguir o seu imundo rastro; este ponto de vista é sequer humano, sequer sub ou anti-humano, pois lança suas raízes nas paisagens infectamente nebulosas do id, a mitologia da subjetividade ainda “em embrião”: o que nos diria e mostraria o embrião se soubesse falar? O sótão da casa dos Boyle abriga este segredo, e Fulci nos figura o infigurável desta pulsão.

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O presente texto foi publicado no livro de compilação O Cinema Não Morreu – Crítica e Cinefilia À pala de Walsh. Pode adquiri-lo junto da editora Linha de Sombra, na respectiva livraria (na Cinemateca Portuguesa), e em livrarias seleccionadas.

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