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What We Do in the Shadows (2014) de Jemaine Clement e Taika Waititi

De Ricardo Vieira Lisboa · Em Outubro 29, 2015

Nos anos 1970 o crítico Robin Wood escreveu longamente sobre cinema de género (muitos desses ensaios foram mais tarde publicados em Hollywood: From Vietnam to Reagan) e sugeriu que o núcleo temático destes filmes podia ser encarado como a combinação de três variáveis: a normalidade, o Outro e a relação entre os dois. A normalidade traduzir-se-ia tipicamente nos protagonistas, símbolos da sociedade patriarcal, heterosexual, branca e capitalista, o Outro encontrar-se-ia na figura do monstro que substancia tudo o que diverge dessa normalidade e da relação entre o normal e o Outro surgiria a trama que preenche os filmes de género (em especial os filmes de monstros) onde o normal combate o Outro. What We Do in the Shadows (O Que Fazemos nas Sombras, 2014) de Jemaine Clement e Taika Waititi é um filme de género e também um filme de monstros, já que os personagens principais todos são vampiros, que de certo modo tenta abolir as variáveis que Wood descreveu ao tomar como ponto de partida a descrição do Outro pelo prisma de uma normalidade oriunda dos formalismos da Reality Television e da sitcom.

What We Do in the Shadows (2014) de Jemaine Clement, Taika Waititi

O que os realizadores neozelandezes nos oferecem é pois um falso documentário a fazer lembrar um episódio alargado de Modern Family com vampiros – o filme é a continuação de uma curta metragem do mesmo nome. Discute-se quem não lavou a loiça ensanguentada, quem deixou o quarto desarrumado, quem tintou de vermelho o sofá, tudo com uma câmara ao ombro e dois cameramen que acompanham os quatro amigos que partilham casa em modo residência universitária. Temos talking heads e oráculos a apresentar os personagens e os momentos de comédia fazem-se muito mais da forma como a câmara encara com normalidade o gore e o dia-a-dia de mortos-vivos sugadores de sangue alheio (não confundir com sangue ao alhinho) do que em qualquer ideia de enquadramento, tensão cómica, ou construção do gag – como acontecia brilhantemente no recente filme de M. Night Shyamalan The Visit (A Visita, 2015), também um falso documentário entre o terror e a comédia. Salvam-se no entanto os momentos de perseguição com a câmara a investir por corredores em total abstracção ou a versão ao ar livre escapando a lobisomens reprimidos.

What We Do in the Shadows acaba por reflectir o choque entre a liberal ficção televisiva e cinematográfica que cada vez mais figura personagens monstruosas (leia-se homossexuais) e o espectador que aceita o monstro no ecrã mas o repudia no passeio ou no seio familiar. 

De certo modo o que há de mais interessante no filme de Clement e Waititi é a forma como apesar de o filme tratar a estranheza dos personagens como normal – cada um foi mordido em épocas diferentes e como tal cada um tem gostos e interesses muito distintos, desde o empalador medieval ao dandy romântico, e como tal têm dificuldade em integrar-se na sociedade moderna, quer seja pela roupa que vestem quer seja pela sua inicial recusa da tecnologia -, através do dispositivo televisivo, a estranheza dos personagens não se deixa de fazer sentir quando estes saem de casa e deambulam pelas ruas ou se vêem barrados à entrada de vários locais de divertimento nocturno – pelo menos uma vez há quem lhes grite fags. Se a relação entre a monstruosidade e a homossexualidade é algo já bastante abordado no cinema de género e nos queer film studies (leia-se Harry M. Benshoff no seu Monsters in the Closet: Homosexuality and the Horror Film), aqui a diferença estabelece-se pelo facto de o monstro não existir como uma forma de afirmação da normalidade por contraposição, mas sim pelo choque entre o olhar benevolente da câmara sobre o monstro por oposição ao olhar moralista e ignorante do “normal”.

Por outras palavras, What We Do in the Shadows acaba por reflectir algo particularmente evidente no estado actual das narrativas audiovisuais: o choque entre a liberal ficção televisiva e cinematográfica que cada vez mais figura personagens monstruosas (leia-se homossexuais) e o espectador que aceita o monstro no ecrã mas o repudia no passeio ou no seio familiar. (Aconselho uma visita à caixa de comentários da crónica de Laurinda Alves Aceitar um filho homessexual do jornal online Observador com vista a tornar mais claro este meu último ponto.)

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Ricardo Vieira Lisboa

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