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Inherent Vice (2014) de Paul Thomas Anderson

De Carlos Natálio · Em Fevereiro 18, 2015

Se bem se lembram, se bem me lembro, havia um mecanismo que fazia com que Freddie Quell, o “zombie” de olheiras até ao queixo vindo do pós-guerra que Joaquin Phoenix era em The Master (O Mentor, 2012), desbloqueasse os traumas interiores. Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman), o líder da seita chamada “The Cause”, era quem fazia as perguntas de fazer bater com a cabeça na parede, e o tête à tête o que se definia como “processing”. Este processamento era o que no filme mais se aproximava de um destilar de razões emocionais-racionais para justificar a violência, o álcool, as errâncias de Freedie. Pode dizer-se que esse é o mecanismo (falhado) que tentava tornar límpidas as águas turvas e insondáveis em que se movia o filme de Paul Thomas Anderson (PTA). Mas precisamente porque esta era uma terapia falhada, quem vê The Master fica sempre às aranhas (ou aos sapos) e isso tem o condão de lançar a carreira do cineasta num abismo que alguns vão desculpando como mero virtuosismo técnico e outros venerando como ascética depuração autoral.

Inherent Vice (Vício Intrínseco, 2014) de Paul Thomas AndersonIndependentemente da barricada onde nos queiramos refastelar parece claro que o rendilhado neo-barroco do universo romanesco de Thomas Pynchon oferece a PTA uma hipótese de prolongar esse mistério. Não é por acaso que esta é apenas a primeira adaptação do célebre escritor. Não sendo um especialista no universo pós-moderno de que Philip Roth, Don DeLillo ou David Foster Wallace também fazem parte, há algo que salta à vista. O formigar de situações, referências, espectro temporal e espacial do pop à bula de medicamentos parecem encerrar em si um potencial cinematográfico que se quer libertar. O cinema nunca lhes deu hipótese, penso, por duas razões: uma, a própria limitação do cinema pré-CGI que obrigava a manter a exuberância visual numa tight leash; duas, a relação entre as partes e o todo deste estilo literário estilhaçam uma certa linearidade onde o cinema, sobretudo o americano, se sente mais à vontade e claro, se vende.

Paul Thomas Anderson decidiu adaptar Inherent Vice (Vício Intrínseco, 2014) [segunda adaptação na sua carreira depois de There Will Be Blood (Haverá Sangue, 2007)] não só por admiração mas também porque, tendo nascido nos anos 70, sabe bem da valente ressaca que a década proporcionou com Nixon e os efeitos do Vietname, entalada entre o amor livre e psicadélico do futuro maravilha que os anos 60 prometiam e uma maior organização das teorias de conspiração da década de oitenta. Nessa ressaca, o mistério de The Master dá lugar à libertação de uma visão da contracultura dos seventies reprimida por uma plutocracia de conspirações de especuladores imobiliários e dentistas cocainados percorrida, “homericamente”, pelo seu herói, o detective privado Doc-Dude-D. Quixote de sandálias, óculos escuros, afro e charro em riste, interpretado claro pela metamorfose ambulante, cãozinho que vai ser sempre buscar a bola ao realizador, Joaquin Phoenix.

Para arrumar com o assunto das clarezas-obscuridades diga-se que no que diz respeito a PTA este soube proteger-se, uma vez que a metáfora do “vício inerente” que Pynchon recolhe do direito marítimo (como a definição de uma falha inerente a um objecto e que justificaria a entropia das utopias liberais) não chegava para “fechar” a exuberância da maré de gags que vem dar à costa de Gordita Beach, a comunidade ficcional suburbana de L.A. onde tem lugar o colorido e neo-noir (sim, sem contradição) do “romance policial” de Pynchon. Ao invés Anderson, soube libertar o cinematismo do romance, puxando o seu filme para uma dimensão ambiental que parte da amenização do espírito raw dos road movies e faz juntar o mosaico sensorial de procura de Pynchon (Doc procura várias pessoas, entre as quais a ex-namorada, mas o filme não é sobre o encontro delas) àquilo que podia ser um romance de Raymond Chandler com uma demão hippie e outra paranóica.

Mas o ambiente de Inherent Vice não é aberto, é fechado. Paul Thomas Anderson decidiu filmar tudo em planos apertados atravancando em trailer parks, esconsos apartamentos de praia, bordeis de paredes de cetim roxo e hospitais psiquiátricos no deserto. E esse tudo é um festim de bizarrias produzidas pelo “triângulo das bermudas” da realidade vista pelos olhos de Pynchon (que Anderson segue fielmente) de onde tudo entra e sai. Desse mundo aparentemente “aberto” que Anderson filmou de ângulo próximo, deixando parte da utopia fora de campo, fazem parte uma apreciável colecção de cromos todos entre a paranóia animada e o suave desespero. Já falei de Doc, espécie de actualização existencial de The Dude laid-back de The Big Lebowski (O Grande Lebowski, 1998) que procura Shasta Fay Hepworth, sua ex-namorada, desaparecida entretanto depois de o contactar para prevenir que a mulher do seu amante, um magnata agente imobiliário, o aferrolhe num asilo, afogado entre o ácido da corrupção e o aguinha purificadora da generosidade. Doc é secundado pelo seu advogado “Sancho” ou Sauncho Smilax (Benicio Del Toro) que surge nas situações mais aleatórias, ora para comer um pedacinho de raia ora para o tentar libertar da polícia. Nesta, reina Christian F. “Bigfoot” Bjornsen, o polícia da “renascença”, com penteado à escovinha, doppelganger de Doc e actor de televisão em part time, que chupa insistentemente bananas cobertas de chocolate e grita a plenos pulmões com empregados japoneses por mais panquecas. Entretanto, como se tudo não estivesse já bem animado, ainda temos um negro pertencente a uma irmandade ariana, um barco chamado Golden Fang que é também um cartel de droga mascarado de corporação ortodêntica, um músico surfista desaparecido que se pensa estar morto mas que pode bem ser um informador da polícia e/ou mais um dos membros da festa de rock e marijuana encenada por PTA como a “última ceia”.

Neste mosaico de excessos e paranóia global, a brisa de marijuana que se vaporiza desde Gordita Beach não é tanto o detalhe activo e simbólico da contra-cultura que podia servir o excesso perceptivo e paranóia estilística como Terry Gilliam faria, por exemplo. Ele é antes o véu de um smog existencial (cuja banda sonora coordenada por Jonny Greenwood dos Radiohead prolonga, contornando os beats and hits dos seventies) e que transforma o ocasional detalhe felliniano, ou o divertimento à la Tarantino (a cena do bordel podia ser dele), num todo simultaneamente mais nostálgico e, porque não, mesmo romântico. Paul T. Anderson não está muito preocupado em que tudo faça sentido, nem em ser exaustivo em relação à inesgotável capacidade de detalhe da mente de Pynchon. De onde vem a incoerência? Do fumo das ganzas ou da própria incongruência da realidade? Ninguém sabe. Nem ele quer saber. Interessa-lhe mais compor um ambiente de conspiração, de vaga indistinção entre os manipuladores e os manipulados, e nesse nevoeiro de causalidade, deixar os seus actores dar uma valente passa e fazer, descontraidamente, o seu melhor jazz gestual e gutural.

Desta feita, Inherent Vice, aos olhos de P.T. Anderson, nada mais é do que um divertimento, uma tapeçaria cómico-tóxica, um  slapstick-melancólico, onde nada faz muito sentido mas que no final toda a gente percebe. E quem já fumou uma ganza sabe que tudo aquilo que fizemos mas não nos lembramos, que tudo aquilo que lembramos mas não fizemos, acaba por fazer toda a lógica. É esse o efeito secundário que o filme provoca no espectador.

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Carlos Natálio

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