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Mystery Train (1989) de Jim Jarmusch

De Helena Ferreira · Em Dezembro 26, 2014

Alguns meses depois de Jim Jarmusch nos trazer um dos melhores filmes a estrear em Portugal este ano, nada melhor que reencontrar a sua quarta longa na Cinemateca. Tal como Only Lovers Left Alive (Só os Amantes Sobrevivem, 2013) também Mystery Train (O Comboio Misterioso, 1989) é, à sua maneira, um filme de fantasmas ambientado numa cidade ao abandono. Uma viagem tripla por Memphis, Tennessee, no final dos 80s, sob o signo de um icónico Elvis e sotaques vários durante uma noite na terra numa ruína da América.

Mystery Train (O Comboio Misterioso, 1989) de Jim Jarmusch

Mystery Train começa com o som do apito de um comboio que passa. Som é um dos elementos-chave do filme, unindo os três segmentos (por exemplo, “Blue Moon” introduzida na rádio por Tom Waits, ou o tiro). Assim como a figura do recepcionista encarnada por Screamin’ Jay Hawkins – também ele ligado ao som que o tornou célebre décadas antes de Mystery Train o convocar como um dos seus fantasmas de corpo presente. Se o sonoro persiste e o visual tem uma forte dimensão pictórica, há um certo audiovisual da pseudo-modernidade que teima em não funcionar ali: “não há televisão!”, observam todos os hóspedes do Arcade Hotel guardado pelas personagens de Hawkins e de Cinqué Lee (irmão de Spike).

Mas voltemos ao comboio do início. O comboio segue e nele um casal jovem de japoneses decide que cassete de Elvis ouvir a seguir num walkman de onde saem dois sets de headphones. Imaginamos o ar de gadget-maravilha disto em 1989, quase distorcido em 2014, agora ternamente vintage. O comboio leva-os como num túnel do tempo rumo a Memphis, terra do Sun Studio (reduzido a um espaço museológico onde não se grava música mas se repete uma explicação da história do lugar quase tão maquinal como uma gravação) e da residência real de Graceland. Estão “Longe de Yokohama” (título do segmento), embora Jun (Masatoshi Nagase) garanta que Memphis é igual a Yokohama se se excluir 60% dos edifícios. Mitsuko (Yuki Kudoh) discorda. Aliás, as suas adoráveis disputas (Elvis VS Carl Perkins, etc.) marcam a maioria dos diálogos da primeira parte. Essa disputa é também entre a fala (dela) e o silêncio (dele), mas é na confluência da sua disparidade que se conseguem os mais belos momentos deste segmento (e, provavelmente, do filme): o beijo de fumo e o sorriso pintado com batom lábios nos lábios. Na sua gritante juventude há uma certa solidão, muito presente nas personagens do cinema de Jarmusch, que vai estar lá ao longo de todo o filme. Filme de gente estrangeira à deriva numa cidade, também ela perdida nas voltas do tempo, uma cidade de gigantes do passado de onde só restam estórias e visões num presente tão monótono como inquieto.

Em “Longe de Yokohama” aprendemos que Elvis é omnipresente, e até a Estátua da Liberdade é, na verdade, uma imagem do Rei. Em “Um Fantasma”, o segundo segmento, Presley faz uma aparição visível (além das recontadas) a Luisa (Nicoletta Braschi), sozinha e retida em Memphis depois da morte do marido e esperando por um voo de regresso a Roma. O casal jovem tinha uma mala tão cheia que não se conseguia fechar. Luisa começa por percorrer Memphis com pouco mais do que um livro, mas depressa lhe enchem as mãos de inúteis revistas (mais um pedaço de modernidade descartável) cuja única função é precipitarem o encontro entre ela e a roommate de uma noite. Esta, por seu turno, também liga o segundo e o terceiro segmentos do filme (e, no final, os ligará ao primeiro num regresso ao comboio para ela e os japoneses), juntamente com uma miríade de outros subtis elementos.

“Perdido no Espaço” é a terceira parte e nela Elvis volta a aparecer. Não apenas como quadro-ícone no quarto do decrépito hotel mas também na alcunha de Johnny (Joe Strummer dos Clash), o contraponto em ebulição de Charlie (Steve Buscemi), o seu “cunhado” numa noite de sarilhos involuntários em catadupa na companhia de Will (Rick Aviles). “Lost in Space” poderia ser o título de todos os segmentos mas é no último (maioritariamente nocturno, em todos os sentidos) que se deslinda o mistério do som do disparo e se precipita a saída de todos os protagonistas de Memphis: de comboio, de avião ou de carro, todos deixam a cidade fantasma rumo a outras aparições.

Três histórias, um dia, uma cidade [anunciando a experiência seguinte do realizador em Night on Earth (Noite na Terra, 1991)]. Mystery Train foi a quarta longa de Jarmusch e uma experiência de cor (cores de noite de Edward Hopper) depois do preto-e-branco de Stranger Than Paradise (Para Além do Paraíso, 1984) e Down by Law (1986). Visto hoje, Mystery Train é um fascinante filme de fantasmas, triste e divertido (combinação bem Jarmuschiana aliás), com ecos de passado em nostalgia impossível de presente (hoje também já passado). O facto de alguns intervenientes terem entretanto morrido (Strummer, Hawkins e Aviles) imprime ao filme uma aura ainda mais “misteriosa”, ainda mais de pedaço roubado ao tempo e ao espaço. Antes que Memphis se desintegre e apenas a voz do irreal, porque eterno, Elvis continue a ecoar via headphones de última geração em comboios em movimento – e salas de cinema – por esse mundo fora. Para os estrangeiros ali como em toda a parte.

Mystery Train será exibido dia 27 de Dezembro, às 19h, na Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema.

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Helena Ferreira

“Maybe, too, the screen was really a screen. It screened us... from the world” (The Dreamers)

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