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À pala de Walsh
Crónicas, Ecstasy of Gold 0

Stuyvesant Avenue between Lexington and Quincy, Brooklyn, NYC

De Tiago Ribeiro · Em Novembro 4, 2014

Amor na mão direita, Ódio na mão esquerda: Radio Raheem (Bill Nunn) conta uma fábula de duas mãos, fazendo ecoar na memória outras poesias proferidas quarenta anos antes por Harry Powell (Robert Mitchum) no The Night of the Hunter (A Sombra do Caçador, 1955). Nada mais simbólico: é aí, nessa fábula das duas mãos, que se encontra a essência (ou potência, dirá o Sérgio Santos) do Do The Right Thing (Não Dês Bronca, 1989), onde ao fogo do ódio se sucede a gentileza de uns cubos de açucar no joelho, do braseiro de um forno de uma pizzaria vai-se para a malta do bairro a chafurdar em água vinda das bocas de incêndio, e de uma singela melodia jazzística para as “labaredas dantescas e destruidoras” do Fight The Power dos Public Enemy. Martin Luther King e Malcom X.

Da melancolia à raiva é já um instante, como vemos na extraodinária cena entre Sal (Danny Aiello) e Pino (John Turturro), pai e filho, donos e senhores da famosa (porque única) Sal’s Famous Pizzeria. Uma imagem saturadíssima, um ligeiro travelling frontal a enquadrar as duas personagens num diálogo memorável. Desde o “I’m beat” de Aiello até ao surgimento de Smiley (Roger Smith), a banda sonora de Bill Lee é harmonia e tranquilidade, para depois se transformar em revolta de solo de saxe com “get the fuck out of here!” ao roliço. Uma pessoa, depois de um dia inteiro a dar no duro e toda estourada em suor, quer é sopas e descanso, e não levar com o idiota da rua a vender produtos de qualidade duvidosa.

Esta cena (sobretudo o mero diálogo entre pai e filho), inserida sensivelmente a meio do filme, serve como subtil ponto de divisão do mesmo, resumo do que já tínhamos visto e antevisão das incendiárias (literalmente) cenas finais, onde as palavras de Sal adquirem, em retrospectiva, um perverso significado. Uma coisa é estar a uma mesa a dizer bonitas palavras de conciliação e socialmente aceites, outra é estar numa situação limite com o sujeito da nossa “simpatia” a lixar-nos o negócio de todas as maneiras possíveis. Sal mostrará de que é feita a sua verdadeira fibra; tal como todos os outros. Mais importante, ainda, é a sua função de colocar um travão na euforia cinematográfica dos primeiros quarenta ou cinquenta minutos, onde personagens, planos oblíquos, grandes planos, e demoníacas cores primárias andam todas de mãos dadas a encherem-nos de alegria. É o Verão.

E da ligeira indignação para jogos florais sem idade. Da Mayor (Ossie Davis) não se contenta com uma cervejola qualquer, tem de ser a pura e icónica Miller High Life. Da Mayor (“Mookie, always do the right thing!”) não é apenas o bêbado crónico da rua (a abrir latas de cerveja como mandam as boas regras da bebedeira); é a sua consciência, o seu senso-comum, o varredor e resolvedor de problemas, é um génio. Mas Mother Sister (Ruby Dee-R.I.P), para disfarçar o seu profundo afeito por Da Mayor, trata de o rebaixar e chamar nomes feios, só lhe faltando apelidar de “fã de Naifa”. É um clássico do amor, exemplificado na maravilhosa troca de acusações entre as duas personagens, ao som de Lee pai e suas melodias aqui de uma imensa jovialidade. É, também, um pequeno retrato das relações comunitárias no bairro, um teatro em palco gigante.

Duas cenas, entre muitas outras, de contornos e entoações díspares, duas cenas entre muitas outras que poderiam aqui estar, tal é o valor antológico de todas elas, fundidas numa temática racial, é certo, mas bem para além disso, queremos pensar. Do The Right Thing, vinte e cinco anos depois da sua estreia, é um filme que nos diz mais pelas icónicas Air Jordan ou por uma parede forrada a vermelho do que por toda a sua problemática social. E por slices of pizza que dão fome e fazem um gajo mandar vir comida às duas da manhã, depressa e rápido, já.

E apesar de Do The Right Thing já ter adquirido, praticamente, o direito à canonização das obras-primas do cinema norte-americano, a verdadeira força legitimadora desse estatuto só chegou há pouco tempo, quando Deus na Terra proferiu algumas palavras sucintas, agradáveis e bem simpáticas sobre o filme de Lee. Agora sim, agora é que Do The Righ Thing pode ser devidamente apreciado, livre que está de possíveis dúvidas sobre o seu instrínseco valor. Já estamos todos de consciência tranquila. Vou rezar uma missa.

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Tiago Ribeiro

Em Dezembro de 1963, Jean-Luc Godard, sentado numa esplanada em Saint-Germain-des-Prés, proferiu o seguinte: "estou sentado numa cadeira numa esplanada e o cinema faz este mês sessenta e oito anos". Um "jeu de mot" polémico (como sempre, no mestre) mas que em retrospectiva nos parece de uma clarividência singular.

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