• Homepage
    • Quem Somos
    • Colaboradores
  • Dossier
    • Raoul Walsh, Herói Esquecido
    • Os Filhos de Bénard
    • Na Presença dos Palhaços
    • E elas criaram cinema
    • Hollywood Clássica: Outros Heróis
    • Godard, Livro Aberto
    • 5 Sentidos (+ 1)
    • Amizade (com Estado da Arte)
    • Fotograma, Meu Amor
  • Críticas
    • Cinema em Casa
    • Em Sala
    • Noutras Salas
    • Raridades
    • Recuperados
    • Sem Sala
  • Em Foco
    • Divulgação
    • In Memoriam
    • Melhores do Ano
    • Palatorium Walshiano
    • Passatempos
    • Recortes do Cinema
    • Se Confinado Um Espectador
  • Crónicas
    • Filmes nas aulas, filmes nas mãos
    • Nos Confins do Cinema
    • Recordações da casa de Alpendre
    • Se Confinado Um Espectador
    • Week-End
    • Arquivo
      • Civic TV
      • Constelações Fílmicas
      • Contos do Arquivo
      • Ecstasy of Gold
      • Em Série
      • «Entre Parêntesis»
      • Ficheiros Secretos do Cinema Português
      • Filmado Tangente
      • I WISH I HAD SOMEONE ELSE’S FACE
      • O Movimento Perpétuo
      • Raccords do Algoritmo
      • Ramalhetes
      • Retratos de Projecção
      • Simulacros
      • Sometimes I Wish We Were an Eagle
  • Contra-campo
    • Caderneta de Cromos
    • Comprimidos Cinéfilos
    • Conversas à Pala
    • Estados Gerais
    • Filme Falado
    • Filmes Fetiche
    • Sopa de Planos
    • Steal a Still
    • Vai~e~Vem
    • Arquivo
      • Estado da Arte
      • Cadáver Esquisito
      • Actualidades
  • Entrevistas
  • Festivais
    • Córtex
    • Curtas Vila do Conde
    • DocLisboa
    • Doc’s Kingdom
    • FEST
    • Festa do Cinema Chinês
    • FESTin
    • Festival de Cinema Argentino
    • Frames Portuguese Film Festival
    • Harvard na Gulbenkian
    • IndieLisboa
    • LEFFEST
    • MONSTRA
    • MOTELx
    • New Horizons
    • Olhares do Mediterrâneo – Cinema no Feminino
    • Panorama
    • Porto/Post/Doc
    • QueerLisboa
  • Acção!
À pala de Walsh
Críticas, Noutras Salas 0

The Scarlet Empress (1934) de Josef von Sternberg

De Inês N. Lourenço · Em Setembro 14, 2014

Em jeito de exórdio, poder-se-ia dizer que The Scarlet Empress (A Imperatriz Vermelha, 1934) é um filme sobre a deformação da alma. Fim do exórdio.

Assumindo com firmeza o descuramento de rigor em relação aos factos históricos, Sternberg e o director artístico, Hans Dreier, investiram todo o seu programa na postura estilística de The Scarlet Empress, uma montagem de atracções tipicamente eisensteiniana, com a imagem e interpretação de Dietrich a evoluir no mesmo sentido das sugestões de mise en scène: passamos do lírico ambiente familiar de Sophia Frederika (nome de berço da futura imperatriz) – pitorescamente representado num baloiço ornado de flores, que bem podia ser no Paraíso – para o terrífico palácio da sua perdição. Há entre estes dois mundos uma diferença de tal ordem abissal, que quando entramos para o último, já nem nos lembramos de como era o outro.

Sternberg realiza, desta feita, um implacável e singular tratado do espectáculo cinemático, que não se reteve em nenhum trânsito de intenções: “I did make a serious if overly pedantic effort to use the medium properly and weld sound and sight into an integral unity”. A deformação da alma de Sophia está assim refletida neste décor gótico, de nuance bizantina ortodoxa, com uns pozinhos de expressionismo alemão esculpido (por Peter Ballbusch) em toda a sorte de gárgulas, espelhos, mesas, cadeiras,  pilares, etc., como se, no contraste entre a luz que emana do rosto de Dietrich (ou aquilo a que Sternberg chamou “o encontro dramático com a luz”) e todo este cenário perverso, nascesse uma nova identidade. E nasceu. O destino de Sophia acaba por consumir a réstia de inocência que habitava o jovem coração, colocando no seu lugar não uma pedra, como se costuma dizer, mas esse tão famoso desejo de poder, a que se reúne uma volúpia muito particular. A volúpia que só Marlene pode abonar, porque é ela. Ponto final.

Há, a propósito desta ideia, um momento que, não parecendo medular, assinala a transformação oculta de Sophia. Um pequeno diálogo sobre a incompatibilidade entre o poder e o coração, à frente do espelho, enquanto a Imperatriz Isabel da Rússia lhe penteia os caracóis loiros, procurando a raiz dos seus pensamentos: “We women are too much creatures of the heart, ain’t we Catherine?”, “Yes, your Majesty.” Nem a primeira acredita no que diz, nem a segunda vai aceitar que assim seja. E estes são os derradeiros minutos de Sophia, a Romântica. Doravante, a “criatura do coração” ficou no último vestido de folhos que usou. Catarina será a “criatura do poder” que deixa verter as últimas lágrimas debaixo do véu de casamento, perto da luz cândida de uma vela,  e que vai crescer com a própria imponência das estátuas que a circundam.

A imoralidade avoluma-se como erva daninha à chuva, e oferece um desfecho vertiginoso a esta narrativa: uma tomada de poder ardilosa, uma vingança e triunfo superlativos. Talvez das mais belas cenas da história do cinema (e é preciso dizê-lo sem medo), essa faustosa e inflamada cavalgada, depois de se ouvir a Marcha Eslava de Tchaikovsky, que termina com o vivaz sorriso de Dietrich.  Talvez também este o mais genuíno sorriso, pelo que ficámos a saber no documentário de Maximilian Schell – Marlene (1984) – em que a sua voz envelhecida fica de repente mais jovem, ao lembrar a cavalgada de The Scarlet Empress. Confessou, está confessado: foi a cena que lhe deu mais gozo fazer, em toda a sua carreira. Sente-se orgulho, sentimos orgulho. Só não sabemos se em Catarina ou em Dietrich; afinal, não há distinção possível.

The Scarlet Empress, do ano de 1934, foi um filme expressamente destinado a sublinhar o ícone Marlene Dietrich, numa altura em que Greta Garbo, a sua simbólica rival, interpretara a Rainha Cristina da Suécia, no filme de Rouben Mamoulian, Queen Christina (Rainha Cristina, 1933). Considerado, à época, uma autêntica desfaçatez de Sternberg, e devastado por uma espécie de nuvem de conservadorismo que não tolerou a ideia de que um filme, à partida, histórico, pudesse incorrer em tal experiência formal, o tempo, como muitas vezes acontece, operou justiça, trazendo  merecida glória a um dos títulos mais importantes desse adágio do cinema que foram Sternberg e Marlene. O filme é, no fim de contas, apenas ela e a estatuária que a molda por dentro.

The Scarlet Empress é exibido dia 15 de Setembro, segunda-feira, pelas 15:30, na Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema.

Partilhar isto:

  • Twitter
  • Facebook
1930'sGreta GarboHans DreierJosef von SternbergMaximilian SchellPiotr TchaikovskyRouben Mamoulian

Inês N. Lourenço

"On aime une histoire parce qu’on aime le conteur. La même histoire, contée par un autre, n’offre aucun intérêt." Jean Renoir

Artigos relacionados

  • Cinema em Casa

    “Cosmopolis”: padrão-ratazana

  • Cinema em Casa

    “Mulher na Praia”: a maleita das imagens

  • Cinema em Casa

    “Soul”: a vida, a morte e o jazz

Sem Comentários

Deixe uma resposta Cancelar resposta

Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.

Últimas

  • A carreira efêmera e dilacerante de Sarah Jacobson

    Março 7, 2021
  • Esta é uma história sobre o amor e a mudança de direcção

    Março 4, 2021
  • “Cosmopolis”: padrão-ratazana

    Março 3, 2021
  • A vingança do “Video Home System”

    Março 2, 2021
  • Ali, à janela

    Março 1, 2021
  • Maureen O’Hara e John Wayne, disputas conjugais – parte III: The Wings of Eagles

    Fevereiro 28, 2021
  • Amigos e comparsas na nouvelle vague

    Fevereiro 25, 2021
  • In memoriam: Jean-Claude Carrière (1931-2021)

    Fevereiro 24, 2021
  • A piscina da vizinha é o cinema da minha

    Fevereiro 23, 2021
  • “Mulher na Praia”: a maleita das imagens

    Fevereiro 22, 2021

Goste de nós no Facebook

  • Quem Somos
  • Colaboradores
  • Newsletter

À Pala de Walsh

No À pala de Walsh, cometemos a imprudência dos que esculpem sobre teatro e pintam sobre literatura. Escrevemos sobre cinema.

Críticas a filmes, crónicas, entrevistas e (outras) brincadeiras cinéfilas.

apaladewalsh@gmail.com

Últimas

  • A carreira efêmera e dilacerante de Sarah Jacobson

    Março 7, 2021
  • Esta é uma história sobre o amor e a mudança de direcção

    Março 4, 2021
  • “Cosmopolis”: padrão-ratazana

    Março 3, 2021
  • A vingança do “Video Home System”

    Março 2, 2021
  • Ali, à janela

    Março 1, 2021

Etiquetas

2010's Alfred Hitchcock Clint Eastwood François Truffaut Fritz Lang Jean-Luc Godard John Ford João César Monteiro Manoel de Oliveira Martin Scorsese Orson Welles Pedro Costa Robert Bresson Roberto Rossellini

Categorias

Arquivo

Pesquisar

© 2020 À pala de Walsh. Todos os direitos reservados.