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Orgulho, sem preconceito

De Tiago Ribeiro · Em Setembro 2, 2014

1 de Setembro de 1970: início de uma década inesquecível no cinema norte-americano. No dia seguinte, já se tinham produzido trinta obras-primas; no final da primeira semana, oitenta. A bola de neve continou a propagar-se a velocidade estonteante. O ratio população norte-americana/obras-primas, em 1974, era de uma pessoa para três “filmes adultos”. Relatos impressionantes e fidedignos de populaça que não conseguia sair de casa, pois tinha obras-primas a barrar-lhe a porta. Pessoas que interrompiam os seus afazeres e ofícios para elevarem os olhos ao céu e chorarem, agradecendo a diversos santos os grandes e bonitos tempos de cinema que se viviam. Mas o arco-íris e a felicidade seriam interrompidos com a chegada de um peixe mau, mecânico e guloso (mas atenção, não é um mau peixe) e a magia “adulta e problemática” começou a perder fulgor, as obras-primas a desandarem das entradas das casas, e as pessoas a deixarem de contemplar os céus em pranto. Estranhamente, continuaram-se a fazer alguns filmes.

Alguns dos filmes que se continuariam a fazer durante essa década teriam a assinatura de um sujeito chamado Walter Hill, que começou a sua actividade precisamente no ano de saída do tal filme com um peixe mau, infantil e cheio de dinheiro, o bandido. Realizou um bom filme de estreia, Hard Times (O Lutador da Rua, 1975), um sublime, The Driver (O Profissional, 1978), e um óptimo, The Warriors (Os Selvagens da Noite, 1979), obras todas elas dominadas pelo fascínio por ruas e estradas, pela noite, por masculinos códigos de honra, e por um sentido de discrição e clareza narrativa que só poderia provocar engulhos a quem andava a chorar depois do “fim do cinema”, data de 1975, bandalho do peixe.

The Warriors abandona a ética e o silêncio melvillianos de The Driver para abrir caminho a uma odisseia em grupo pela noite de uma New York tão real quanto fantasiosa. Uma cidade de madrugada, apenas e só com outcasts a ocuparem os seus espaços, sejam eles mendigos, sem-abrigos, prostitutas, administradores de bancos, e gangs a perseguirem-se uns aos outros. Hill voltaria a uma outra viagem pela noite colorida de New York cinco anos depois, em Streets of Fire (Estrada de Fogo, 1984), talvez o seu último filme com F grande.

E é nesta noite de sobrevivência que Hill nos presenteia com o mais extraodinário momento do seu cinema, e que deveria ter setenta capítulos dedicados num qualquer livro sobre os “Era uma vez os anos setenta” do cinema norte-americano, com teses que poderiam partir de diversas perspectivas: feministas, classistas, arquitectónicas, vestuárias, maquinistas, etc. Walter, em dois minutos, diz mais sobre as diferenças de classe e a dignidade humana que o Bong Joon-ho no recente e gloriosamente falhado Snowpiercer (Snowpiercer – Expresso do Amanhã, 2013). Sem discursos populistas, sem diálogos inflamatórios, sem comícios políticos, sem Xutos no Avante, apenas e só com a milenar arte da expressão facial a servir de farol sentimental.

Uma cena toda ela unificada pelo som do metro, com planos estritamente necessários para a transmissão de uma ideia. Na memória ficará, sobretudo, a câmara a percorrer, em sentido descendente, as pernas de Mercy (Deborah Van Valkenburgh), olhar da classe privilegiada sobre a sujidade e modéstia alheias; trinta anos antes, o baboso Tay Garnett colocaria a câmara a subir pelas pernas de Lana Turner, olhar que, estamos seguros, mereceria o mais vivo repúdio de Sontag e Leibovitz enquanto fariam amor sob os escritos de Brecht. E o melhor de tudo: a compreensão, o não julgamento e a ausência de qualquer perspectiva maniqueísta sobre os meninos “ricos”. Vou colocar mais tabaco no meu cachimbo e mudar de robe.

The Warriors, além de tudo o mais, tem o seu interesse histórico: mostra como, em finais de setentas, se organizavam os agora tão famosos quanto retardados “meets”. Para além das devidas diferenças de vestuário e a ausência de gadgets tecnológicos, os adolescentes de então diferenciavam-se dos de agora numa questão puramente matemática, pois sabiam contar pelo menos até cinco, o que é perfeitamente normal, pois estavam inseridos numa cultura cinéfila enriquecedora, adulta, e sem paralelo na história de Hollywood, e que daria azo ao fabrico de espantosas obras-primas da literatura cinematográfica, como Easy Riders, Raging Bulls, de Peter Biskind, que parece estar fora de circulação, pois o grande Vasco Câmara acho que abarbatou todos os seus exemplares.

 

 

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Tiago Ribeiro

Em Dezembro de 1963, Jean-Luc Godard, sentado numa esplanada em Saint-Germain-des-Prés, proferiu o seguinte: "estou sentado numa cadeira numa esplanada e o cinema faz este mês sessenta e oito anos". Um "jeu de mot" polémico (como sempre, no mestre) mas que em retrospectiva nos parece de uma clarividência singular.

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Sem Comentários

  • Marco diz: Setembro 2, 2014 em 10:46 pm

    Engraçadinho com a história dos meets? Não. Ridículo e reaccionário.

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