• Homepage
    • Quem Somos
    • Colaboradores
  • Dossier
    • Raoul Walsh, Herói Esquecido
    • Os Filhos de Bénard
    • Na Presença dos Palhaços
    • E elas criaram cinema
    • Hollywood Clássica: Outros Heróis
    • Godard, Livro Aberto
    • 5 Sentidos (+ 1)
    • Amizade (com Estado da Arte)
  • Críticas
    • Cinema em Casa
    • Em Sala
    • Noutras Salas
    • Raridades
    • Recuperados
    • Sem Sala
  • Em Foco
    • Divulgação
    • In Memoriam
    • Melhores do Ano
    • Palatorium Walshiano
    • Passatempos
    • Recortes do Cinema
    • Se Confinado Um Espectador
  • Crónicas
    • Filmes nas aulas, filmes nas mãos
    • Nos Confins do Cinema
    • Recordações da casa de Alpendre
    • Se Confinado Um Espectador
    • Week-End
    • Arquivo
      • Civic TV
      • Constelações Fílmicas
      • Contos do Arquivo
      • Ecstasy of Gold
      • Em Série
      • «Entre Parêntesis»
      • Ficheiros Secretos do Cinema Português
      • Filmado Tangente
      • I WISH I HAD SOMEONE ELSE’S FACE
      • O Movimento Perpétuo
      • Raccords do Algoritmo
      • Ramalhetes
      • Retratos de Projecção
      • Simulacros
      • Sometimes I Wish We Were an Eagle
  • Contra-campo
    • Caderneta de Cromos
    • Comprimidos Cinéfilos
    • Conversas à Pala
    • Estados Gerais
    • Filme Falado
    • Filmes Fetiche
    • Sopa de Planos
    • Steal a Still
    • Vai~e~Vem
    • Arquivo
      • Estado da Arte
      • Cadáver Esquisito
      • Actualidades
  • Entrevistas
  • Festivais
    • Córtex
    • Curtas Vila do Conde
    • DocLisboa
    • Doc’s Kingdom
    • FEST
    • Festa do Cinema Chinês
    • FESTin
    • Festival de Cinema Argentino
    • Frames Portuguese Film Festival
    • Harvard na Gulbenkian
    • IndieLisboa
    • LEFFEST
    • MONSTRA
    • MOTELx
    • New Horizons
    • Olhares do Mediterrâneo – Cinema no Feminino
    • Panorama
    • Porto/Post/Doc
    • QueerLisboa
  • Acção!
À pala de Walsh
Críticas, Em Sala 1

Joe (2013) de David Gordon Green

De Ricardo Vieira Lisboa · Em Maio 8, 2014

Joe (2013) de David Gordon Green começa assim (e termina assim), com um plano fixo, um jovem de costas (Gary) e um homem velho de frente. O rapaz fala, o homem ouve. Ele diz-lhe que é intratável, um bêbado, irresponsável, miserável, um energúmeno. O velho dá mais um trago na sua garrafa de moonshine, endireita-se e enfia uma enorme bofetada na cara do miúdo que quase o derruba. Faz lembrar alguma coisa? O chapadão que enche a cara de Pedro Hestnes e abre O Sangue (1989) de Pedro Costa? Faça de mim o que quiser. Talvez, mas nada mais há que ligue os filmes, aqui tudo rebenta em grotescas formas melodramáticas como Gordon Green nos habituou – cinema extremado e poderia também dizer cinema estrumado, tudo em Joe é simultaneamente fértil e pestilento. Joe (2013) de David Gordon Green Há semanas esteve por cá o professor e crítico Tom Conley, para dar um workshop sobre o nosso querido Raoul Walsh. O Luís Mendonça e o Carlos Natálio entrevistaram-no e, lendo a transcrição, surpreendo-me: ao que parece eu citei, sem saber – ou, sabendo, não retive nem associei o nome à citação – o próprio Conley no meu texto para o dossier Raoul Walsh, Herói Esquecido. Refresquei a memória. Conley é muito dado a leituras freudianas dos filmes, é capaz de encontrar uma pila ou um ânus em qualquer filme e os do Walsh são ricos nisso – vide o charuto de Gentleman Jim (O Ídolo do Público, 1942) ou a gruta do final Colorado Territory (Golpe de Misericórdia, 1949). Mas o que mais me tocou foi um pormenor de leitura em High Sierra (O Último Refúgio, 1941) salientado por Conley: “Bogart sai do esconderijo porque ouve o seu cão ladrar – não de propósito chamado Pard por ser pardo e por simbolicamente conceder o perdão ao herói/criminoso” – e acaba baleado pelas costas. Também em Joe há um cão – não será ele que operará a regeneração do protagonista (será outro ser sarnento e rafeiro interpretado por Nicolas Cage, o titular Joe) -, chama-se Faith e a certa altura desaparece. Joe e Gary procuram pela Faith, mas não a encontram em parte alguma. Gary lembra-se – num raciocínio fomentado pela bebida juvenil – se eu fosse cão ficava onde me tivesse separado do meu dono, regressam ao local onde a tinham perdido e lá a encontram. A Faith está onde a perdeste! É neste sentido que digo que Joe é tanto fértil como pestilento, porque nele os símbolos borbulham como no caldo primordial, só que cada símbolo, cada metáfora, é de evidente leitura. Não é só a crente cadela, são as árvores que morrem para dar lugar a novas num processo de sacrifício e regeneração, é a ponte como lugar de passagem e local de despertença, enfim, um manancial de auto-explicativos subtextos onde o sub ficou em casa e já tudo é textual. Mas esta é a natureza do cinema de David Gordon Green, a ruralidade infestada pelo grotesco quasi-paródico. Joe é pois, no conjunto dos filmes do realizador, um objecto muito próximo de Undertow (Contra-Corrente, 2004): o mesmo vilão over the top, a mesma figura adolescente perdida no mundo dos crescidos em busca de uma figura paternal (tema fundamental do gordongreenianismo), o mesmo decadente território de hillbillies e rednecks, cheio de prostitutas, bêbados, e homens de caçadeira. E talvez aqui convenha deixar uma nota sobre Jeff Nichols. Embora os ambientes os aproximem, as mesmas pulsões por dramas bíblicos de sangue e tripas, entre filhos e pais – e até partilham o mesmo actor, Tye Sheridan era um dos miúdos de Mud (Fuga, 2012) e é agora o Gary deste filme -, um mundo de tom distancia os dois realizadores. Onde Nichols vive algures entre o clássico e o paisagístico – onde tudo é revestido de uma finura de recorte e de um grande trabalho nas personagens e direcção de actores -, Green vem de um mundo onde se corporiza a estética televisiva e do videoclip, delicia-se com ralentis musicais e adora desenhar a traço grosso. Nesse sentido, Nicolas Cage não podia ser uma escolha mais acertada, porque ele, na sua fisicalidade, manifesta os desejos da obra: tanto Cage como o filme estão inchados ao ponto de rebentar. Joe é pois um filme-estria.

Partilhar isto:

  • Twitter
  • Facebook
2010'sDavid Gordon GreenJeff NicholsNicolas CagePedro CostaPedro HestnesRaoul WalshTom ConleyTye Sheridan

Ricardo Vieira Lisboa

O cinema é um milagre e como diz João César Monteiro às longas pernas de Alexandra Lencastre em Conserva Acabada (1999), "Levanta-te e caminha!"

Artigos relacionados

  • Cinema em Casa

    “Mulher na Praia”: a maleita das imagens

  • Cinema em Casa

    “Soul”: a vida, a morte e o jazz

  • Críticas

    “Nosotros, la música”: uma questão de orgulho cubano

1 Comentário

  • Vitor Gomes diz: Maio 9, 2014 em 4:09 pm

    “Green vem de um mundo onde se corporiza a estética televisiva e do videoclip, delicia-se com rallentis musicais e adora desenhar a traço grosso”. Pode desenvolver? Especialmente a parte da estética tv e videoclip.

    Inicie a sessão para responder
  • Deixe uma resposta Cancelar resposta

    Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.

    Últimas

    • Maureen O’Hara e John Wayne, disputas conjugais – parte III: The Wings of Eagles

      Fevereiro 28, 2021
    • Amigos e comparsas na nouvelle vague

      Fevereiro 25, 2021
    • In memoriam: Jean-Claude Carrière (1931-2021)

      Fevereiro 24, 2021
    • A piscina da vizinha é o cinema da minha

      Fevereiro 23, 2021
    • “Mulher na Praia”: a maleita das imagens

      Fevereiro 22, 2021
    • Três passos numa floresta de alegorias

      Fevereiro 21, 2021
    • “Soul”: a vida, a morte e o jazz

      Fevereiro 18, 2021
    • Parar as cores

      Fevereiro 17, 2021
    • Vai~e~Vem #30: o que pode o retrato

      Fevereiro 16, 2021
    • Steal a Still #38: Luís Miguel Oliveira

      Fevereiro 15, 2021

    Goste de nós no Facebook

    • Quem Somos
    • Colaboradores
    • Newsletter

    À Pala de Walsh

    No À pala de Walsh, cometemos a imprudência dos que esculpem sobre teatro e pintam sobre literatura. Escrevemos sobre cinema.

    Críticas a filmes, crónicas, entrevistas e (outras) brincadeiras cinéfilas.

    apaladewalsh@gmail.com

    Últimas

    • Maureen O’Hara e John Wayne, disputas conjugais – parte III: The Wings of Eagles

      Fevereiro 28, 2021
    • Amigos e comparsas na nouvelle vague

      Fevereiro 25, 2021
    • In memoriam: Jean-Claude Carrière (1931-2021)

      Fevereiro 24, 2021
    • A piscina da vizinha é o cinema da minha

      Fevereiro 23, 2021
    • “Mulher na Praia”: a maleita das imagens

      Fevereiro 22, 2021

    Etiquetas

    2010's Alfred Hitchcock Clint Eastwood François Truffaut Fritz Lang Jean-Luc Godard John Ford João César Monteiro Manoel de Oliveira Martin Scorsese Orson Welles Pedro Costa Robert Bresson Roberto Rossellini

    Categorias

    Arquivo

    Pesquisar

    © 2020 À pala de Walsh. Todos os direitos reservados.