• Homepage
    • Quem Somos
    • Colaboradores
  • Dossier
    • Raoul Walsh, Herói Esquecido
    • Os Filhos de Bénard
    • Na Presença dos Palhaços
    • E elas criaram cinema
    • Hollywood Clássica: Outros Heróis
    • Godard, Livro Aberto
    • 5 Sentidos (+ 1)
    • Amizade (com Estado da Arte)
  • Críticas
    • Cinema em Casa
    • Em Sala
    • Noutras Salas
    • Raridades
    • Recuperados
    • Sem Sala
  • Em Foco
    • Divulgação
    • In Memoriam
    • Melhores do Ano
    • Palatorium Walshiano
    • Passatempos
    • Recortes do Cinema
    • Se Confinado Um Espectador
  • Crónicas
    • Filmes nas aulas, filmes nas mãos
    • Nos Confins do Cinema
    • Recordações da casa de Alpendre
    • Se Confinado Um Espectador
    • Week-End
    • Arquivo
      • Civic TV
      • Constelações Fílmicas
      • Contos do Arquivo
      • Ecstasy of Gold
      • Em Série
      • «Entre Parêntesis»
      • Ficheiros Secretos do Cinema Português
      • Filmado Tangente
      • I WISH I HAD SOMEONE ELSE’S FACE
      • O Movimento Perpétuo
      • Raccords do Algoritmo
      • Ramalhetes
      • Retratos de Projecção
      • Simulacros
      • Sometimes I Wish We Were an Eagle
  • Contra-campo
    • Caderneta de Cromos
    • Comprimidos Cinéfilos
    • Conversas à Pala
    • Estados Gerais
    • Filme Falado
    • Filmes Fetiche
    • Sopa de Planos
    • Steal a Still
    • Vai~e~Vem
    • Arquivo
      • Estado da Arte
      • Cadáver Esquisito
      • Actualidades
  • Entrevistas
  • Festivais
    • Córtex
    • Curtas Vila do Conde
    • DocLisboa
    • Doc’s Kingdom
    • FEST
    • Festa do Cinema Chinês
    • FESTin
    • Festival de Cinema Argentino
    • Frames Portuguese Film Festival
    • Harvard na Gulbenkian
    • IndieLisboa
    • LEFFEST
    • MONSTRA
    • MOTELx
    • New Horizons
    • Olhares do Mediterrâneo – Cinema no Feminino
    • Panorama
    • Porto/Post/Doc
    • QueerLisboa
  • Acção!
À pala de Walsh
Críticas, Noutras Salas 2

Vidas Secas (1963) de Nelson Pereira dos Santos

De João Lameira · Em Dezembro 13, 2013

Porventura, será preciso contextualizar a importância de Vidas Secas (1963) para a história do cinema brasileiro e, decorrentemente, mundial. Se Rio 40 Graus (1955) havia lançado o Cinema Novo brasileiro, fortemente influenciado pelo neo-realismo italiano, e o nome do realizador Nelson Pereira dos Santos, a consagração (tanto do novo cinema brasileiro como de Pereira dos Santos) surgiria com esta adaptação do livro homónimo de Graciliano Ramos, escritor ligado ao Partido Comunista do Brasil, que descrevia a pobreza de uma família nordestina à procura de uma esperança no meio de um deserto demasiadamente literal para que nele crescesse alguma.

O filme de Nelson Pereira dos Santos, que é mais devedor da corrente literária do neo-realismo do que propriamente do seu correspondente cinematográfico − só no fim, aliás, na epígrafe final, há a indicação de que aquela família poderá ir para a cidade grande juntar-se ao proletariado ou a (in)actividades menos honrosas (como uma espécie de prequela da desgraça que a sobrepopulação dos grandes centros urbanos provocaria no futuro) −, é tão seco como as vidas das personagens: diálogos esparsos, escassa psicologia, poucas explicações, acções contidas, planos longos a documentar as provações.

Vidas Secas começa e acaba com uma caminhada. Na primeira, a meio de uma seca que mata tudo à volta, animais e plantas, Fabiano (ingénuo e meio pateta, pronto a ver o melhor em tudo) e a mulher, Vitória (sabida e orgulhosa, a sonhar com camas de couros), andam à procura de um sítio onde pousar, acompanhados pelos filhos traquinas, muitos novos para trabalhar, e uma cadela, Baleia, pau para toda a obra. Encontram uma casa vazia e um fazendeiro pouco amigável que lhes dá trabalho (ou explora, segundo a perspectiva) na lida do gado (Fabiano é vaqueiro, o cowboy do Nordeste brasileiro, sem o glamour e a qualidade de vida do congénere norte-americano).

As coisas correm menos mal, o que para a família, habituada ao desastre, é o mesmo que prosperar. Tratam logo de arranjar uns fatos domingueiros e uns sapatos apertados para irem à festa da povoação. No entanto, como num film noir, o destino é o destino e as coisas voltam a descambar: reaparece a seca, o sol abrasador e impiedoso (que sobreexpõe o próprio filme), os abutres em volta dos cadáveres do gado que morre de fome e sede. Regressam, sobretudo, o desemprego e a falta de habitação. E lá fecha o filme com uma caminhada tão desoladora como a primeira e com prognósticos tão positivos.

Nelson Pereira dos Santos, que assina também a adaptação de Vidas Secas, nunca põe na boca ou nos pensamentos das personagens qualquer palavra ou consciência revolucionária, apesar da opressão do patrão, da polícia, do sistema que se perpetua. Fala-se apenas de um inferno na terra, cujos motivos são sempre outros: o tempo, os abutres, o azar. A dada altura, parece que os anos de humilhações e as agruras da vida vão explodir em violência ou até mesmo rebelião, mas a revolta acaba por se revelar em pequenos actos de crueldade. Existem, quando muito, uns pequenos assomos de rebeldia. Fabiano responde mal ao fazendeiro, pensa vingar-se do polícia que o maltratou e o mandou para a prisão sem razão, talvez até juntar-se a uns pistoleiros que passam por ali − mas depressa amocha, preferindo virar-se contra o papagaio que nem fala, os abutres, o filho inquisitivo ou a fiel cadela Baleia, que, na morte (o momento culminante de Vidas Secas), até tem direito a planos subjectivos, personagem de corpo inteiro.

O sonho de Vitória é deixar de ser bicho, “virar gente”, no entanto, como Pereira dos Santos mostra ao espectador, tal não será possível enquanto ela e Fabiano (assim como todos os outros como eles) não perceberem que, a continuar assim, estão condenados a repetirem o mesmo percurso uma e outra vez. Por mais que caminhem, nunca irão encontrar outra coisa.

Vidas Secas é exibido  dia 14 de Dezembro, às 15h00, na Sala Polivalente do Centro de Arte Moderna da Fundanção Calouste Gulbenkian, no âmbito do ciclo Harvard na Gulbenkian: Diálogos sobre o cinema português e o cinema do mundo.

Partilhar isto:

  • Twitter
  • Facebook
1960'sGraciliano RamosNelson Pereira dos Santos

João Lameira

"Damn your eyes!"

Artigos relacionados

  • Cinema em Casa

    “Mulher na Praia”: a maleita das imagens

  • Cinema em Casa

    “Soul”: a vida, a morte e o jazz

  • Críticas

    “Nosotros, la música”: uma questão de orgulho cubano

2 Comentários

  • Maria Ribeiro diz: Dezembro 16, 2013 em 7:46 pm

    “Existem, quando muito, uns pequenos assomos de rebeldia. Fabiano responde mal ao fazendeiro, pensa vingar-se do polícia que o maltratou e o mandou para a prisão sem razão, talvez até juntar-se a uns pistoleiros que passam por ali − mas depressa amocha, preferindo virar-se contra o papagaio que nem fala, os abutres, o filho inquisitivo ou a fiel cadela Baleia (…)”. Caro, este comentário parece-me um bocado ao lado, primeiro porque se desvia dos factos do filme (por ex., não é fabiano quem torce o pescoço ao papagaio), segundo porque reduzir o acto de sacrifício (e de nobreza) de Baleia a um pequeno assomo de rebeldia é uma distracção que o filme não merece.

    Inicie a sessão para responder
    • João Lameira diz: Dezembro 16, 2013 em 8:20 pm

      “Fabiano responde mal ao fazendeiro, pensa vingar-se do polícia que o maltratou e o mandou para a prisão sem razão, talvez até juntar-se a uns pistoleiros que passam por ali” – estes são os pequenos assomos de rebeldia, nos quais não incluo a morte de Baleia, que me parece mais uma crueldade, um virar-se contra o “inimigo” errado, um escape da violência “certa” que não chegou a acontecer. Quem esgana o papagaio é, de facto, Vitória. Na enumeração, acabei por meter uma acção que não pertence a Fabiano.

      Inicie a sessão para responder

    Deixe uma resposta Cancelar resposta

    Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.

    Últimas

    • Amigos e comparsas na nouvelle vague

      Fevereiro 25, 2021
    • In memoriam: Jean-Claude Carrière (1931-2021)

      Fevereiro 24, 2021
    • A piscina da vizinha é o cinema da minha

      Fevereiro 23, 2021
    • “Mulher na Praia”: a maleita das imagens

      Fevereiro 22, 2021
    • Três passos numa floresta de alegorias

      Fevereiro 21, 2021
    • “Soul”: a vida, a morte e o jazz

      Fevereiro 18, 2021
    • Parar as cores

      Fevereiro 17, 2021
    • Vai~e~Vem #30: o que pode o retrato

      Fevereiro 16, 2021
    • Steal a Still #38: Luís Miguel Oliveira

      Fevereiro 15, 2021
    • Lições de um século

      Fevereiro 14, 2021

    Goste de nós no Facebook

    • Quem Somos
    • Colaboradores
    • Newsletter

    À Pala de Walsh

    No À pala de Walsh, cometemos a imprudência dos que esculpem sobre teatro e pintam sobre literatura. Escrevemos sobre cinema.

    Críticas a filmes, crónicas, entrevistas e (outras) brincadeiras cinéfilas.

    apaladewalsh@gmail.com

    Últimas

    • Amigos e comparsas na nouvelle vague

      Fevereiro 25, 2021
    • In memoriam: Jean-Claude Carrière (1931-2021)

      Fevereiro 24, 2021
    • A piscina da vizinha é o cinema da minha

      Fevereiro 23, 2021
    • “Mulher na Praia”: a maleita das imagens

      Fevereiro 22, 2021
    • Três passos numa floresta de alegorias

      Fevereiro 21, 2021

    Etiquetas

    2010's Alfred Hitchcock Clint Eastwood François Truffaut Fritz Lang Jean-Luc Godard John Ford João César Monteiro Manoel de Oliveira Martin Scorsese Orson Welles Pedro Costa Robert Bresson Roberto Rossellini

    Categorias

    Arquivo

    Pesquisar

    © 2020 À pala de Walsh. Todos os direitos reservados.