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O amor num buraco

De Tiago Ribeiro · Em Julho 7, 2013

Água. Água a escorrer pelas paredes, água a fervilhar dentro de panelas, água em garrafas, água no corpo, água. Tsai Ming-liang já gastou mais de sete biliões de metros cúbicos de água nos seus filmes semi-aquáticos, onde o precioso liquido já apareceu em quase todas as situações e formas possíveis, com evidente destaque para a clássica problemática “infiltrações de água e respectivo simbolismo de lento apodrecimento e deterioração dos mecanismos das relações na sociedade”, um trabalho de grande envergadura de um autor cujo nome não nos lembramos agora. Ou então é este bagaço caseiro que não me está a permitir pensar nos justos e devidos moldes. Está muito calor, também.

Outro assunto de grande relevo no cinema do taiwanês é a sua notável preocupação em tornar qualquer enquadramento num hino à sujidade. Os interiores dos edifícios, por mais limpos que aparentem estar, descarregam para o espectador um intenso aroma a podridão, e quanto ao exterior é melhor não referirmos nada, para bem do autor deste texto, que mal acabou de comer. E está muito calor. A iluminação fantasmagórica faz o resto, reiterando a imagética de ratos a viverem em aconchegantes esgotos. Já imaginamos senhoras de Cascais ou mesmo o Vitor Belanciano a olharem para este deslustro e a exclamarem frases de “puro horror, filha!”

A juntar a isto, há o loop incessante de comidas pré-cozinhadas e congeladas a serem selvaticamente sorvidas pelos seus proprietários, nomeada e mormente Lee Khang-sheng, actor em todos os filmes de Tsai. A este propósito lembramo-nos da também predilecção de outro cineasta asiático pelo fast food, Wong Kar-wai, embora em Tsai o serrabulho de tais iguarias esteja inserido na temática “indivíduos isolados que são suficientemente preguiçosos para cozinhar” e, no de Wong, em “indivíduos isolados que estão com as devidas dores de corno para sequer terem tempo para pensar em cozinhar”. Devem estar quarenta graus.

Ora, em Dong (The Hole, 1998) – obra-quase-prima que se seguiu a He Liu (O Rio, 1997), o cume dos cumes da arte de Tsai -, há tudo do que foi referido nos três parágrafos anteriores, com o acrescento de um buraco que divide os apartamentos de Lee Khang-sheng e Yang Kuei-mei, outra habitual do realizador. Será escusado acrescentar a informação de que o buraco resulta de algo que tem a ver com esgotos, mas acrescentamos na mesma, até porque nem sequer há uma brisa no ar. Claro está que este buraco vai funcionar como chamariz para belas e terríveis coisas, nomeada (e mormente), jogos de sedução em lume brando. No filme há outro buraco por onde se enfia um homem com comportamento de barata, mas não estamos interessados nesse tema lateral.

E assim, bem no meio do olho do furacão, ou no olho da degradação, ou no olho do c… da água, surge sem pedir licença um conjunto de números musicais em que os dois nossos amigos interpretam clássicos da música chinesa de cinquentas e sessentas, sobretudo os de Grace Chang, a Madalena Iglésias lá do sítio. Rodeados de decomposição, Lee e Yang vestem-se cheios de cor e alegria, com seus movimentos sensuais e libertinos, algo que seria do grande agrado de Busby Berkeley. E se referimos Busby Berkeley, temos obviamente a obrigação de acrescentar – uma vez mais – o nome de Mário Jorge Torres, que via o dedo do mestre do Musical em praticamente qualquer filme. Mário, foste e és grande. A tua crítica ao A Religiosa Portuguesa (2009) deveria vir numa antologia da sátira portuguesa. Mas voltando aos dançarinos e à mise en scène, então há que escrever que ficamos perplexos e deliciados com o contraste estabelecido. Já vinha era uma chuvinha.

Os momentos musicais surgem também como exteriorização dos sentimentos das personagens, por oposição aos silêncios inconvenientes da “vida real”, onde são reforçados os excessos dos jogos florais entre os dois enamorados. Eu vou é reforçar a minha garganta com um litro de água mal acabe este texto. Mas tudo acaba bem, com vermelho e branco no quadro, junto ao buraco (off screen) do seu contentamento, em que os dois estranhos dançam ao som de uma canção devidamente intitulada de I don’t care who you are. Lá fora chove, evidentemente. “Lá” no filme, não aqui.

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Grace ChangLee Khang-shengTsai Ming-liangYang Kuei-Mei

Tiago Ribeiro

Em Dezembro de 1963, Jean-Luc Godard, sentado numa esplanada em Saint-Germain-des-Prés, proferiu o seguinte: "estou sentado numa cadeira numa esplanada e o cinema faz este mês sessenta e oito anos". Um "jeu de mot" polémico (como sempre, no mestre) mas que em retrospectiva nos parece de uma clarividência singular.

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