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Lilith (1964) de Robert Rossen
Críticas, Noutras Salas 0

Lilith (1964) de Robert Rossen

De João Araújo · Em Junho 10, 2013

Lilith (Lilith e o Destino, 1964) é um filme complexo, imperfeito, de carácter difícil e trágico, tal como as suas duas personagens principais. É o derradeiro filme de Robert Rossen, realizador pouco conhecido para além de The Hustler (A Vida É Um Jogo, 1961), que viria a morrer dois anos depois de completar Lilith. O filme, que foi rodado já com Rossen doente, ganhou assim maior importância pessoal para este, à procura de uma qualquer redenção, que acaba reflectida num filme assombrado pelo peso do passado.

Tal como Elia Kazan, Rossen colaborou com o comité de McCarthy que visava identificar comunistas a trabalhar em Hollywood e, em 1953, acabou por denunciar 57 colegas, depois de ser impedido de trabalhar durante dois anos. Se Kazan teve várias oportunidades para abordar tal envolvimento nos seus filmes posteriores, para Rossen, Lilith era a derradeira oportunidade para influenciar o seu legado. Lilith é o nome da personagem interpretada por Jean Seberg, uma rapariga internada numa clínica psiquiátrica que, na primeira vez a que é aludida a sua presença, observa misteriosamente pelas grades da janela do seu quarto a chegada de Vincent, a personagem interpretada por Warren Beatty. Vincent funciona como a âncora do filme, cujo percurso dentro da história funciona como um guia emocional. Sem rumo, este jovem regressado da Guerra da Coreia procura emprego na clínica, mesmo que pareça não saber porquê. Logo no início da história de Lilith e Vincent, o filme mostra o papel invertido entre os dois: Vincent parece perdido, à margem da sociedade e solitário, à procura de um emprego que a própria entrevistadora não recomenda; Lilith, por outro lado, aparenta estar contente com a sua condição e relativamente bem integrada, com os seus demónios bem escondidos, pelo menos melhor que os de Vincent.

A primeira vez que vemos os dois juntos é numa das sequências mais significativas do filme, pela tentativa de quebrar com o marasmo da estética clássica. Depois de resgatar Lilith do seu quarto para participar numa saída de grupo, vemos a descoberta lenta de um pelo outro, numa coreografia de silêncios, olhares e encantos. Neste primeiro encontro são acompanhados de perto por uma terceira personagem, um jovem tímido e cortês interpretado por Peter Fonda, um relutante participante de um triângulo amoroso que aqui começa a desfiar-se. Mas o mais significativo da sequência é a forma como é filmada, mesmo que de forma isolada dentro do filme, com planos intercalados e cortes ritmados, que estabelecem a tal coreografia, sublinhados por um olhar obsessivo de Lilith para com o rio que corre perto, livre e tumultuoso. Esta edição rápida e de associação livre entre imagens, sugere uma referência a Shadows (Sombras, 1959) de John Cassavetes, referência ampliada pela participação do actor principal desse filme, que tem aqui uma pequena mas tempestuosa participação. Um artifício recorrente no filme é o recurso a imagens reflectidas, quer seja através da visão de Vincent ao olhar para uma montra, quer seja Lilith a procurar o seu reflexo na água, ou aos próprios reflexos de imagens que se repetem dentro do filme, como os vários enquadramentos de uma personagem a olhar para um retrato emoldurado, ou quando repete a imagem de uma figura feminina prostrada ao lado da sua cama, mais tarde no filme.

Lilith tem muito em comum com Splendor in the Grass (Esplendor na Relva, 1961) de Elia Kazan. Ambos os filmes decorrem numa pequena comunidade rural no meio da América, onde uma rapariga é julgada pelo seu comportamento diferente da norma e levada a questionar a sua sanidade. Em Lilith o espaço é reduzido ainda mais à escala de uma clínica psiquiátrica e, se o castigo é mais óbvio, também reduzida é a sua esperança em escapar. Em ambos os casos, a confusão e repressão sexual impostos por uma norma social conservadora desabam em comportamentos extremados e, se em Splendor in the Grass as dúvidas inerentes à construção de uma personalidade levam a que a personagem feminina se coloque em perigo e seja marginalizada, em Lilith a falta de limites da personagem está intrinsecamente ligada à sua condição mental. A moralidade contemporânea exige que sejam castigadas pelo seu comportamento e, em Lilith, chega a afirmar-se que a insanidade é muito mais sinistra numa mulher do que num homem. Vincent existe neste filme para questionar esse julgamento, para através da deterioração da sua história, do seu comportamento possessivo e destrutivo, transfigurar a história de um rapaz que se apaixona loucamente por uma rapariga louca em algo mais traiçoeiro.

Apesar das questões complexas exploradas no filme, não deixa de ser frustrante a forma como o filme recorre a chavões e resoluções simplificadas na parte final. Oferecendo soluções simplificadas, tentando resolver um puzzle que nunca, na verdade, existiu, e assim desarmando muito do trabalho elaborado até aí. Mas o que parece ficar com o acto final é um arrependimento pelo que foi entretanto feito por uma personagem, e a necessidade de assumir responsabilidade pelas próprias acções, da existência de um acto de contrição como salvação.

Lilith será exibido dia 11 de Junho (terça-feira), às 21h45 em Guimarães no Blackbox – PAC, numa sessão organizada pelo Cineclube Guimarães, inserida no ciclo As Escolhas de… (escolha de Pedro Mexia).

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João Araújo

"I don't think the film has a grammar. I don't think film has but one form. If a good film results, then that film has created its own grammar" Yasujiro Ozu in "Ozu and The Poetics of Cinema", David Bordwell

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