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Críticas, Em Sala, Festivais, IndieLisboa 1

No (2012) de Pablo Larraín

De Ricardo Vieira Lisboa · Em Abril 18, 2013

Pablo Larraín deu nas vistas com Tony Manero (2008) que era tanto um filme seu como do seu protagonista, Alfredo Castro, que também assinava o argumento. Desse filme recordo, acima de tudo, uma ideia que achei muito marcante, de tal forma que me parece que se propagou pelos filmes subsequentes do realizador. É ela a noção de que a ditadura, ou o viver em ditadura, é uma espécie de incapacidade de crescer, de aceitar a mudança – de certo modo o que há de sintomático em todas as ditaduras é o seu complexo Peter Pan.

Dito isto, justifiquemos tal afirmação para que não seja isto um texto de vapores. Em Tony Manero conhecíamos um homem dos seus 50 anos que estava bloqueado na época das discotecas e na brilhantina de John Travolta. Incapaz de mudar esse homem decidia-se a construir uma réplica do soalho reluzente do filme e reagia com violência extrema a todos os que a isso se opusessem. Como uma criança que embirra quando não obtém o que deseja, este homem adulto espancava até à morte os que impedissem ou dificultassem o concretizar dos seus caprichos. Em Post Mortem (2010) temos de novo Castro e de novo um homem que deseja uma dançarina de variedades, porque os brilhos o encantam e as lantejoulas luzem sobre os holofotes do palco. Esse homem que não reage aos mortos – e são muitos mortos – fá-lo simplesmente porque nunca lhe explicaram que se deve reagir com horror, tal como uma criança. Neste sentido os homens (os Castros) dos filmes anteriores (e deste novo filme também, onde a sua personagem é um homem-menino com mal-perder) de Larraín eram crianças grandes no mundo dos adultos. Talvez assim o eram porque assim cresceram ou, e mais provável,  porque o contexto social de opressão e horror assim os condicionou. Mas não nos demoremos em considerações psicologistas sobre a influência do social no indivíduo.

Em No (Não, 2012)a personagem de Gael García Bernal é de outra índole; publicitário que viveu muitos anos fora do Chile e portanto ainda pouco envolvido na realidade da ditadura de Pinochet (Pin-8) e com um filho. Neste sentido destaca-se muito dos personagens de Castro que eram invariavelmente homens sós, sem família (esse homem é o patrão de Bernal interpretado, cá está, de novo por Castro). No entanto será curioso que a questão da infantilidade persista aqui mas de uma forma diferente e a esse respeito há um plano sobre o qual vale a pena repousar o olhar. Sendo um publicitário, Bernal tem que conhecer os produtos que tem para vender (desde refrigerantes a micro-ondas) e por isso leva os produtos para casa. Um desses produtos é uma locomotiva de brincar eléctrica que gira sobre carris moldáveis, o produto é tanto um objecto de trabalho como é um presente para o filho. Esse comboio será usado como meio para a intimidação do nosso pai de família por dois funcionários do regime – que tentam desviá-lo do apoio à campanha do não, mas já lá vamos. Nessa noite, reflectindo sobre o incidente e de que forma deverá reagir a ele, Larraín enquadra a cabeça de Bernal sobre os carris do pequeno comboio tirando partido da pouca profundidade de campo; estamos incertos sobre se a cabeça poderá ser de facto atropelada ou se é uma ilusão própria da bidimensionalidade do cinema. Ou seja, num plano só encontramos um par de significações interessantes: por um lado é o próprio cinema que nos infecta sobre a natureza do perigo (reflectindo sobre o facto de ser este um filme de época); por outro, a apropriação do joguete como premonição de algo mais violento que transparece a referida questão da criança grande no mundo dos adultos.

De qualquer forma tudo isto é lateral ao filme. No corresponde à resposta que a maioria do povo chileno deu ao referendo realizado em 1988 sobre se desejavam a permanência de Augusto Pinochet por mais oito anos aos comandos do país. Retrata-se a campanha publicitária (financiada pelos Estados Unidos) que derrubou o regime de forma democrática. Desta forma este é um filme que deixa um lastro no cinema de Larraín encerrando o capítulo ditatorial do país (Post Mortem correspondia ao derrube de Allende e Tony Manero ao sufoco do regime). Se tematicamente No fecha uma porta, formalmente abre outra: enquanto os filmes anteriores se compunham de enquadramentos muito apertados e de movimentos de câmara pouco exuberantes, este novo filme muda completamente a paleta de cores (muito claro, muitas vezes em sobre-exposição), ganha um tremor de câmara ao ombro, é filmado em vídeo [usando câmaras Sony U-matic reconstruídas para o efeito – curioso que tal arqueologia técnica acontece também num outro filme presente nesta edição do Indie Lisboa: Computer Chess (2012)] e montado de forma pouco regular oferecendo uma aparência meio amadorística. Parece-me que é através da forma que o realizador se despede do regime. A liberdade da câmara reflecte a liberdade em potência do Chile e o vídeo com a sua descoloração própria e o arrasto das cores (à beira de rebentar) combina lado a lado com o logótipo da campanha – um arco-íris. A liberdade como produto só podia ser uma coisa alegre, ainda que o que vem depois possa ser igualmente tiranizante.

No abre hoje, às 21h30, no São Jorge, o festival IndieLisboa 2013. 

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Ricardo Vieira Lisboa

O cinema é um milagre e como diz João César Monteiro às longas pernas de Alexandra Lencastre em Conserva Acabada (1999), "Levanta-te e caminha!"

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1 Comentário

  • Eu Sou Tony Manero | À pala de Walsh diz: Abril 27, 2020 em 1:52 pm

    […] anos 1970, sob a ditadura armada de Pinochet, que prosseguiria, então, com Post Mortem (2010) e No (Não, 2012), com o actor Alfredo Castro como corpo condutor. Eram os tempos, estes da primeira […]

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