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À pala de Walsh
Críticas, Recuperados 1

Giù la Testa (1971) de Sergio Leone

De João Palhares · Em Abril 23, 2013


Porque é que John Mallory – a personagem interpretada por James Coburn neste Giù la Testa (Aguenta-te Canalha, 1971) – se apresenta bem baixinho como “Sean” quando Juan (Rod Steiger) lhe pergunta o nome nas estradas desertas do México? Juan não percebe sequer que é isso que Mallory lhe diz primeiro, mas a nós não nos é permitido esquecer porque o nome já tinha ecoado na maravilhosa música do genérico – depois, também – e vai continuar e continuar a ecoar e a assombrar e a seduzir. Tem qualquer coisa que ver com os fantasmas e o passado sombrio do irlandês revolucionário que troca a pátria pelo México e os ideais pela dinamite. Sempre nas sombras, sempre escondido mas a par de tudo, mesmo quando a revolução o atrai para o seu vórtice de sangue e massacres e anda ele à procura de prata montado numa mota que atravessa a paisagem mexicana.

“Where there’s revolution, there’s confusion. And when there’s confusion a man who knows what he wants stands a good chance of getting it”. É com estas palavras que Mallory convence Juan Miranda a assaltar o banco nacional de Mesa Verde, um sonho já antigo deste último. Juan lembrava-se de uma cidade diferente. Tinha lá estado com o pai quando tinha oito anos e já o ouro chamava por ele. Estava em todo o lado. Mas Mesa Verde agora é uma vala comum. Mal reconhece a cidade e grita uivos de felicidade cai-lhe um cadáver fresco nos braços. Fuzilamentos e desordem… Reuniões e garantias revolucionárias. “Sean, Sean, Sean” outra vez. Assobios de promessas e sonhos lindos, ao longe. Leone traduz agora a música do genérico em acção e olhares. Zoom. Está já tudo combinado e está já John sentado à mesa no bar dos submundos revolucionários a beber tequila de tacada. É perto do meio-dia menos cinco e é hora. Comem-se pêras e maçãs e bate-se em bifes ao ritmo de Morricone com acenos e abrires de portas à mistura. Zoom. A cadeia de acenos leva-nos a Chulo, o filho mais novo de Juan, frágil e hesitante na multidão e na confusão da revolução, com um comboio de brincar armadilhado por um fio. Deixa-o à porta e arrasta o fio pela multidão em direcção ao bar e a John, que lhe afaga o cabelo e faz entrar Juan e a família no banco com mais uma explosão, voltando para a sombra. Só regressa para coroar Juan como herói da revolução com um melódico grito de “Viva Miranda!” e desaparece outra vez na multidão. O Juan é que está fodido que não havia ouro no banco nem queria nada com estas histórias…

As promessas deste filme são sonhos impossíveis. O sonho de ir assaltar bancos para os Estados Unidos. “Johnny & Johnny”. Nunca se pisa o solo do país vizinho mas ele vive nos olhos esfomeados de Juan e na banda-sonora. É a única fuga possível. Eles sabem disso mas só John sabe que não vão conseguir.

Há filmes difíceis de ver e este filme tem pelo menos uma cena insuportável. Qualquer coisa perto dos baixares de cabeça e dos “para quês” das guerras de Ford, Walsh, Cimino, Milius e Peckinpah. E Leone encontra-os aqui. Na gruta a que John e Juan voltam depois de aniquilarem um exército inteiro naquela ponte e reduzirem tudo a pó. Antes da gruta, caem homens e cavalos no abismo de poeiras e pedras daquele vale-armadilha com os dois a assistir do alto do monte. Há um coronel perdido e cambaleante nos destroços. Na gruta, à noite, Juan vê o mesmo feito aos seus. Não suporta. Já se tinha explicado no monólogo das revoluções e agora sente as palavras na pele e nas entranhas. Tinha toda a razão. Vem o grande plano em que não vemos nada – só a cara do gigante Rod Steiger – mas percebemos tudo. “Johnny & Johnny” olham-se e ficamos nisto o tempo que é preciso até decidirem quebrar o silêncio e Juan sair com munições para castigar os responsáveis. Ouvem-se tiros e John vê os corpos espalhados pela gruta num movimento de câmara que re-encena o massacre com os sons da batalha de Juan, lá fora. Este longuíssimo plano-subjectivo dos cadáveres não cai nos crimes dos “travellings de Kapo” deste mundo porque é James Coburn quem olha e a coisa toma outros contornos. Respira-se de alívio ao olhar para a cara dele. E ele parece assegurar-nos: não é mostrar por mostrar, não há abraços e choros, não há criancices demagógicas. Há um homem que olha, não diz nada e sai por um túnel, sonâmbulo e sem vida. Vai dizer e fazer o quê? “Jesus…” e cavalgar na madrugada como faz no Pat Garrett & Billy The Kid (Duelo na Poeira, 1971) de Peckinpah. Não, nem isso chega.

Neste filme só se pode olhar para cima. O que é que se pode escrever? Que é uma variação sobre o número “três”? Que como há três “Seans” na música há três maneiras de viver com os crimes e horrores da “revolução”? A de John, a de Juan e a do doutor Viega? Que Leone constrói o filme num balanço entre a comédia e a tragédia que é justificado e resolvido na cena do comboio e da pomba que caga na testa de Juan? Quando o ridículo chega aos limites do razoável já só se pode rir? Estão-se a rir só daquilo ou de tudo? Mas eu sei lá…

“Sean, Sean, Sean…”

Mas porque é que John diz que se chama “Sean”?

Quando o Doutor Viega é avistado pelo James Coburn saído das grutas, está a vender os amigos de armas aos oficiais. Foi torturado e obrigado a falar. Está a chover imenso. Os flashbacks já quase parecem explicar tudo. Foi aquilo. Nas últimas cenas, dentro doutro comboio, John diz a Viega (que entretanto foi libertado), que não julga ninguém. Que deixou de o fazer há uns anos, na Irlanda. Abateu, sabemos nós, um denunciante a tiro por vender irmãos de revolução. Matou um amigo, talvez chamado Sean. O melhor dos amigos. Um amigo que no fim só quer perdoar como se quer perdoar a si próprio e se calhar já não acha possível. É essa memória longínqua no corpo de assobios, ritmos e melodias que assola a consciência de John Mallory. Dias de Verão, passeios de carro, amizades eternas…

Ou então John chamava-se mesmo Sean e decidiu que já não merecia ou suportava chamar-se assim. Renegou o passado  e as revoluções esquecendo tudo e queria só renascer com a prata do México. Não sabia que o iam arrastar para outra igual… Nos últimos planos, já com o cigarro na mão, pode estar a pensar na revolução derradeira. Na revolução verdadeira. Reaver o passado e os prados da Irlanda… e poder chamar-se Sean outra vez. Talvez.

É por isso que sorri no meio da última cigarrada? Não sei. Sei só que sei tão pouco sempre que vejo este filme…

1970'sJames CoburnJohn FordJohn MiliusMichael CiminoRaoul WalshRod SteigerSam PeckinpahSergio Leone
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João Palhares

"You are truly a pile of dog shit, Cardinal."

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1 Comentário

  • Once Upon a Time in America (1984) de Sergio Leone | À pala de Walsh diz: Abril 17, 2015 em 2:01 pm

    […] Dólares, 1965), o que ele faz com ela só se torna extraordinário e toma outros contornos em Giù la Testa (Aguenta-te, Canalha!, 1971), único filme da obra de Leone que me parece tão complexo como Once […]

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