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À pala de Walsh
Crónicas, O Movimento Perpétuo 0

Noites brancas, noites ardentes

De Francisco Valente · Em Fevereiro 19, 2013

Quando Marcello Mastroianni pergunta a Claudia Cardinale, a sua mulher ideal e imaginada em 8 1/2 (1963) – tu saresti capace di piantare tutto e ricominciare la vita da capo? -, se seria capaz de abandonar tudo o que tem, na sua vida, para dedicar-se exclusivamente à sua paixão, ao seu sonho – um amor incondicional, portanto – , Claudia pergunta-lhe de volta – e tu? Como mulher idealizada, as respostas nunca virão dela – Guido interroga-se a si mesmo e dá resposta à sua própria incapacidade em fazê-lo, em preferir, na verdade, a imagem idealizada do amor que busca e não encontra, à realidade do amor que o rodeia mas que não sabe ver, um amor que não sabe aceitar.

A questão do amor, no cinema, é da maior importância, pois é o cinema que nos mostra, aos nossos olhos, a sua capacidade invisível, as coisas não-ditas que se dizem nos olhos de quem ama, mesmo sem correspondência, ou de quem arde por ver a sua paixão – a sua vida idealizada, sonhada e completa -, reflectida nos olhos de quem caiu no seu caminho. Filmar é um gesto de amor – que outro gesto seria para um realizador querer dedicar a sua própria vida a imprimir uma ficção numa fita de película, material inflamável, como quem ama, matéria destinada a deteriorar-se, como quem vive? O próprio homem, em busca dessa imortalidade por que tanto anseia, refugia-se agora no digital e espelha aí as suas emoções. Mas será por ventura quando aceitarmos que também ele perece que a sua matéria poderá então respirar a paixão das imagens.

Amar as nossas projecções e ideias ou amar a realidade que a inventa – é esse o dilema sobre o qual caminham quilómetros de película e dias inteiros de amantes furiosos – aqueles que são mais calmos e tímidos, logo, os que se mostram apenas ao mundo por raros momentos de enorme coragem para com o amor que sentem. Como Joaquin Phoenix em Two Lovers (Duplo Amor, 2008) de James Gray, filme-monumento porque encontra a sua escala épica nos sentimentos de quem procura viver, e não no espalhafato de quem se crê demasiado confiante naquilo que sente. Como una furtiva lagrima, como se ouve quando um dos dois amores de Phoenix – o amor real – deixa a sua casa na primeira noite onde se vivem os primeiros momentos secretos da sua paixão – o momento original em que o amor apenas vive entre o olhar de duas pessoas, antes de ser visto pelo olhar dos outros.

Mas porque Phoenix é esse “amante furioso”, o seu desejo de encontrar um amor que preencha um desejo de fuga, de abandonar as nuvens e as feridas da sua vida, dar-lhe-à também a sua projecção idealizada, como um abismo que se confunde com a sua própria capacidade de amar. Mas a sua vida não se resolve pela idealização – aceita-se – e quando essa segunda paixão se desmorona porque não soube responder ao seu pedido de salvação, Phoenix abandona lentamente a terra, a caminho do mar, onde as ondas são as únicas notas que conseguem embalar uma mente que nada mais consegue suportar. E de repente, através de um gesto de timidez desse primeiro amor real e terreno, Phoenix encontra, no escuro da noite, uma prova real da sua existência que o traz ao lar, o lugar da família, e de volta ao conforto verdadeiro que espera por ele e que sempre existiu (bastou saber vê-lo). Um amor que o faz olhar de baixo do abismo onde se encontra e que lhe lembra, na sua solidão imposta – somebody up there likes me.

Os seus passos de regresso a esse encontro já não são fruto da ansiedade desse amor furtivo e idealizado que se queria secreto para viver – logo, impossível de se concretizar. São passos calmos e lentos, seguros de que o amor verdadeiro é aquele que, um dia, irá também terminar, porque a vida assim o pede. E porque a aceitação da vida, da sua fragilidade e da sua morte – como lágrimas furtivas que queremos esconder mas que mostram invariavelmente a nossa tristeza -, é inerente ao gesto de amar alguém. E que amar incondicionalmente não passa pela perdição, mas por reconhecer a incerteza da vida.

A personagem de Phoenix talvez viva com os seus dois amores para sempre, um real e outro sonhado, mas o cinema de James Gray soube dar-lhe a clarividência de viver aquele que estava ao seu lado, logo, mais seguro e previsível, mas mais verdadeiro, pelas mesmas razões. Que o diga o abraço final no último plano do filme, dois amantes que se reencontram sozinhos numa sala cheia de pessoas, com um amor só deles, mas visível às pessoas que lhes deram vida e que os amam, também eles, sem condições.

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James GrayJoaquin Phoenix

Francisco Valente

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Sem Comentários

  • Francisco Noronha diz: Fevereiro 21, 2013 em 9:15 pm

    Que este texto não passe despercebido. Nem sempre se consegue fazer percepcionar em quem lê a retumbância do cinema nas nossas vidas como estas linhas o fazem. Lindíssimo. Parabéns.

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