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Cesare deve morire (2012) de Paolo e Vittorio Taviani

De Carlos Natálio · Em Outubro 31, 2012

Basta dar uma olhadela (e nem precisa ser exaustiva, chegam os últimos dez anos) para perceber que normalmente a escolha do Urso de Ouro em Berlim procura distinguir objectos “importantes” que, além do filme em si, digam qualquer coisa ao mundo, do género “nós estamos atentos e isto é um sinal”. Basta ver os prémios para o péssimo Tropa de Elite em 2008, a Tuya de hun shi (Tuya’s Marriage) em 2007, a Grbavica (Filha da Guerra) em 2006 ou a Bloody Sunday (O Domingo Sangrento, 2002), e fico por aqui (penso que se percebe a ideia). Se a isto juntarmos o facto de quer Vittorio, quer Paolo Taviani estarem já na casa dos oitenta e ser o momento de uma homenagem de carreira, ficamos com argumentos mais do que suficientes para partir com alguma desconfiança para o vencedor deste ano do galardão máximo no festival alemão, Cesare deve morire (César Deve Morrer, 2012).

Mas há que louvar o ânimo destes irmãos que, numa fase em que poderiam reconfortar-se com uma noção de carreira feita [os Taviani têm alguns títulos importantes no cinema italiano dos anos 70 e 80, a começar por Padre Padrone, 1977) La notte di San Lorenzo (A noite de São Lourenço, 1982) ou Kaos (1984)], se predispuseram a pensar em filmar qualquer coisa “diferente”. Neste caso, a inovação não está tanto na decisão do trabalho sobre um grande autor como William Shakespeare e a peça “Júlio César” (lembramos que é um hábito no cinema dos Taviani debruçar-se sobre grandes nomes, entre eles, Tolstói, Dumas ou Pirandello), nem sequer no facto de atribuir à peça uma dimensão política inusitada. Por exemplo, quando Orson Welles formou a Mercury Theatre no início da carreira adaptou a peça, quatro anos antes de Citizen Kane (O Mundo a Seus Pés, 1941), com os protagonistas a vestir uniformes a lembrar as vestes fascistas e nazis. Obviamente que a peça de Shakespeare dá-se a essas extravasamentos sobre a natureza do poder, aliás, este filme não escapa a isso.

Mas a grande razão pela qual é preciso tirar o chapéu a este Cesare é que ele é todo feito entre universos distintos que se tocam, se prolongam, não para achar um meio termo mas para trabalhar essa mesma passagem: fazer um documentário e ter-se nas mãos uma poderosa ficção, começar no teatro e acabar no cinema, partir enclausurado e terminar livre. No fundo é só de uma passagem que se fala: do fechado ao aberto. Assim, a partir de um olhar documental, que segue os ensaios e a peça levada à cena pelos prisioneiros de uma prisão de segurança máxima em Roma, os irmãos Taviani têm muito interesse em saber como afecta o teatro (e a arte) enquanto condição libertadora no impacto do confinamento em que aqueles homens se encontram. “Libero Dentro” é o que pode resumir a experiência dos prisioneiros que no final do filme, depois das palmas, do sucesso, são de novos encerrados nas suas celas, mas é também o nome do livro que o actor que faz de César escreveu sobre essa experiência.

Mas essa “libertação” vai mais longe e percebe que uma peça de teatro pode descolar da sua “agoridade” mesmo prescindindo das imagens: os efeitos sonoros como as palmas, os relâmpagos, a construção sonora da tensão, apagam o espaço da prisão sem que tenhamos de ver algo para lá dos seus muros. E esse é só o princípio de “caminho” em direcção ao cinema, um estilo que junta os espaços pela montagem e que privilegia o preto e branco contrastado e nele, os rostos marcados. E finalmente a ficção não é só a do teatro, da conspiração contra César. É que numa peça em que não há vilões (nem Cássio, nem Brutus o são), a representação por parte dos prisioneiros, actores e autores, os vilões “oficiais”, desperta a ironia da reflexão sobre o poder, a justiça, a traição por parte dos sem-poder, dos “injustiçados”, dos “traídos”. Mas também permite ver na conspiração romana algo de motim prisional e na assistência ao discurso de Brutus ou aos ensaios na cela (fazer dela o palco), algo que redimensiona Cesare enquanto documentário prisional on the side.

Numa carreira que por razões óbvias se aproxima do seu terminus é revigorante ver os irmãos Taviani vencer o Urso de Ouro com tão poderoso antídoto contra o aprisionamento. Há por aqui um arejamento difícil de compreender mas que não passa pelo espírito. Antes pela emoção de uma fala, a interacção entre o homem e o actor, entre o assassínio e o sacrifício.

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Carlos Natálio

«Keep reminding yourself of the way things are connected, of their relatedness. All things are implicated in one another and in sympathy with each other. This event is the consequence of some other one. Things push and pull on each other, and breathe together, and are one.» Marcus Aurelius

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Sem Comentários

  • JBL diz: Novembro 3, 2012 em 12:30 pm

    Não sei quem disse e eu aceito, que o cinema dos irmãos Taviani tem como génese o neo realismo do cinema italiano. Acredito que foi lá que eles foram beber. Eu sou dos que penso que o cinema feito naquela época foi, continua a ser, um dos momentos mais altos da nobre arte.

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