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À pala de Walsh
Críticas, Noutras Salas 0

Hiroshima mon amour (1959) de Alain Resnais

De Ricardo Vieira Lisboa · Em Julho 23, 2012

Hiroshima Mon Amour (Hiroshima Meu Amor, 1959) é um objecto fundamental na fundação da Nouvelle Vague, Godard classificou a inovação do filme como o resultado da equação “Faulkner + Stravinsky”. Então podemos suspeitar que não haverá melhor filme para inaugurar a secção das críticas, Noutras Salas, uma vez que passa dia 25 deste mês na matiné da Cinemateca.

Começar pelo início é sempre um bom princípio. Os créditos de abertura surgem: sobre um chão preto, negríssimo, uma erva daninha que cresce brilhante ilumina a terra escura. Exactamente como recentemente Resnais começou o seu Les Herbes Folles (As Ervas Daninhas, 2009), uma erva insistia (e subsistia) em viver no meio do cimento e rebentava, abre caminho, até à luz. Será curioso perceber que apesar de imagens idênticas, os intuitos são quase opostos: se num temos uma plantinha verde a abrir caminho (trabalhadora) por entre o betão, no outro temos uma plantinha raquítica a tentar sobreviver entre os detritos de um cataclismo. Ou seja, Les Herbes Folles é um filme brilhante (cheio de cor e alegria) de uma leveza irrepetível e Hirsohima Mon Amour é coisa escura, sobre a forma como nos tentamos recompor do horror da guerra, do horror da mutilação e da morte. [Será curioso perceber que os filmes de Resnais vêm-se tornando cada vez mais soltos, leves, esvoaçantes – e espero (ansiosamente) por  Vous n’avez encore rien vu (2012).]

O filme começa, dois corpos entrelaçados, pernas e braços e costas e carnes e peles, tudo coberto de cinza, podia ser neve ou areia, mas o título do filme não engana, Hiroshima; são cinzas, só podem ser cinzas. Num plano só (plano que se repete, outras pernas e outros braços entrelaçados de outras maneiras, mas sempre a cinza) Resnais condensa aquele que é o intuito principal do filme, resume-nos (logo no primeiro plano) o que veremos na próxima hora e meia da nossa vida: a (im)possibilidade do amor entre aqueles que sofreram os horrores da guerra. Claro que a questão do esquecimento é igualmente premente ou a forma como se poderá compreender o horror sem o viver (Tu n’as rien vu à Hiroshima, mas ela foi e viu os hospitais e o museu e os pedaços de metal retorcido e as fotografias dos desfigurados, e as filmagens e as reconstituições e até chorou, como todos os turistas choraram,  mas ele insiste, Tu n’as rien vu à Hiroshima, tu não viste nada).

Mas como o algodão, o título não engana, é sobre Hiroshima e é sobre o amor, e portanto sobre a forma como o amor se suja, de cinzas e não só. Esta ideia é prolongada à exaustão, Resnais encontrou diversas soluções de transmitir esta sujidade do amor: logo a começar, toda a primeira conversa sobre as atrocidades é (compreendemos depois) um conversa de almofada, dois amantes conversam sobre a guerra (poderiam falar de outra coisa?); ele adormece, ela levanta-se, olha o corpo dele adormecido na cama, em vez de uma visão ternurenta temos um  fade num cadáver (que outra visão poderia ser?), mais tarde ele pergunta-lhe sobre a sua terra natal (lá, onde perdeu o seu primeiro amor, um soldado nazi morto aquando da libertação), ela questiona o seu interesse e ele afirma, foi lá onde passaste a ser quem és (entenda-se, foi lá onde deixaste de ser feliz).

Tu destróis-me, tu fazes-me bem, tu destróis-me, tu fazes-me bem, por favor devora-me, deforma-me até me fazeres horrível. Mais uma vez um amor apodrecido pela radioactividade, uma coisa decadente, uma mulher que pede que a deformem por amor, tendo ela visto as horríveis deformações causadas pela bomba. Como pode o amor sobreviver em tão pantanoso meio, em local tão empestado de memórias medonhas? Esquecendo as memórias medonhas, claro está. No fim ela diz, já em desespero, eu esquecer-te-ei, eu já te estou esquecendo, e depois diz, HI-RO-SHI-MA, muito devagar, pronunciando a palavra como se nela houvesse alguma resposta ao amor (note-se a forma como a palavra Hiroshima é dita vezes e vezes sem conta, sempre com um temor e uma esperança, assim como Nevers – a terra natal da menina) e ele tapa-lhe a boca, mas antes disso ela diz, Hiroshima é o teu nome. Hiroshima é o teu nome? repare-se na frase, aquele homem que ela talvez ame, aquele com quem ela poderia ser feliz, deixou de ser um homem, passou a ser só a memória da morte. Ele responde-lhe, o teu nome é Nevers, Nevers em França. Dois seres, marcados para a vida (com ferros em brasa), condenados a lembrarem o horror, porque é impossível esquecer.

Hiroshima Mon Amour passa dia 25 de Julho (quarta-feira), às 15:30, na Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema.

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1950'sAlain ResnaisCinemateca

Ricardo Vieira Lisboa

O cinema é um milagre e como diz João César Monteiro às longas pernas de Alexandra Lencastre em Conserva Acabada (1999), "Levanta-te e caminha!"

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Sem Comentários

  • H. diz: Julho 23, 2012 em 8:10 pm

    Hiroshima Mon Amour é tanto de Resnais como é de Duras, das palavras de Duras – que são tanto a essência deste filme como as imagens de Resnais. Não sei se se ‘pode’ escrever sobre o filme sem se falar nas palavras da Duras…

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    • Ricardo Vieira Lisboa diz: Julho 30, 2012 em 3:18 am

      Não se pode mesmo, as palavras de duras são endémicas ao filme e desculpo-me já de o não ter feito, ou melhor, de o não ter feito explicitamente, as palavras de Duras estão lá (no filme e no meu texto) e sem elas não haveria filme (nem texto). Aliás, Hiroshima Mon Amour era para ser uma curta documental sobre o efeito da bomba (daí os primeiros 15 minutos do filme incluírem tantas imagens da Hiroshima pós bomba) mas Resnais não queria repetir um Nuit et Brouillard e por isso convocou Duras para lhe escrever o argumento afirmando mais tarde que sem ela não teria havido filme. O seu a seu dono.

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  • J. Barreto diz: Julho 25, 2012 em 2:06 pm

    “J’ai tout vu à Hiroshima.” Mas o homem, japonês, responde sempre “Tu n’as rien vu à Hiroshima”. As palavras de Marguerite Duras são belas!

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